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“Ganho de vida”: As dicas do pesquisador que transformou a nutrição contra ultraprocessados

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O epidemiologista Carlos Monteiro, referência mundial em nutrição e criador do conceito de ultraprocessados, afirma que cozinhar precisa voltar a ser entendido como cuidado e não como perda de tempo. Em entrevista ao Estadão, o professor emérito da USP critica a forma como a preparação dos alimentos passou a ser tratada como um obstáculo na rotina, enquanto deveria ser vista como prática fundamental para a saúde e o bem-estar. Reconhecido internacionalmente, Monteiro entrou em listas de maior influência científica em 2025, incluindo o The Washington Post e a consultoria Clarivate, reforçando sua relevância no debate sobre alimentação.

Seu trabalho ganhou projeção em 2009, quando ele e seu grupo no Nupens/USP lançaram a classificação Nova, que dividiu alimentos conforme o grau de processamento e introduziu o termo “ultraprocessados”. A proposta surgiu ao identificar que a população consumia menos comida fresca, mas mantinha altos índices de sal, açúcar e gordura devido aos produtos prontos para consumo formulados pela indústria. Segundo Monteiro, esses itens começaram a substituir preparações tradicionais, contribuindo para o avanço da obesidade e outras doenças crônicas. Ele explica que as críticas à Nova — como a heterogeneidade dentro do grupo de ultraprocessados ou falhas em estudos observacionais — não invalidam as evidências que sustentam a necessidade de políticas públicas.

Para ele, a publicidade agressiva, o status associado a esses produtos e a dificuldade de leitura de rótulos fazem com que parte da população não perceba seus impactos, reforçando a importância de medidas como regulação de propaganda, políticas fiscais e campanhas de comunicação para orientar escolhas mais saudáveis. Mesmo assim, Monteiro diz que os ultraprocessados não vão desaparecer, e por isso é essencial fortalecer a cultura da comida feita em casa. Ele argumenta que cozinhar deve ser entendido como ganho de vida e não como desperdício de tempo, especialmente em um cenário dominado por pressões de produtividade, e afirma que retomar esse valor é parte central para reduzir a dependência de produtos industrializados e melhorar a dieta da população.