Gestão grotesca da crise consolida isolamento internacional do Brasil, diz professor alemão
De Oliver Stuenkel no El País:

Desde o início da pandemia, o Brasil ganhou destaque internacional como um dos integrantes da chamada “Aliança do Avestruz”, composta por países cujos líderes negam a gravidade ou mesmo a existência da covid-19.
Além do presidente brasileiro, os ditadores da Nicarágua, Bielorrússia e Turcomenistão viraram chacota mundial ao minimizarem o risco ou recomendarem o consumo de vodca, fumaça de ervas, vermífugo e outras substâncias sem nenhuma evidência médica de ação contra a doença.
Embora também defenda teses esdrúxulas sobre o vírus, o presidente americano Donald Trump não abraçou o radicalismo da Aliança do Avestruz.
Enquanto sua recusa a endossar o negacionismo rendeu ao ex-ministro da Saúde Henrique Mandetta uma demissão, Trump ainda não ousou demitir Anthony Fauci, diretor do Instituto Nacional de Alergias e Doenças Infecciosas dos Estados Unidos e um dos principais especialistas do mundo em epidemias.
Desde então, chovem análises que pintam o Brasil como um país à deriva, liderado por um presidente imprevisível, sem norte e incapaz de articular uma resposta coerente à pior crise sanitária do último século, que já matou mais de 100.000 brasileiros.
À deriva pode até ser, e o Financial Times acertou ao chamar o Brasil de “a country without a plan”: um país sem planejamento, sem perspectiva de como proteger a população ou de como se preparar para o mundo pós-pandemia.
Enquanto nações com governos eficientes sairão da crise mais unificadas e resilientes, com sociedades mais empáticas e seguras de sua capacidade de superar desafios complexos, o Brasil sairá ainda mais fragilizado, polarizado e inseguro.
Essa derrota humilhante no combate à pandemia fica mais difícil de engolir quando lembramos da tradicional liderança do país no âmbito da saúde pública e de sua vitória diplomática contra as grandes farmacêuticas há vinte anos, quando conseguiu quebrar patentes poderosas e produzir genéricos para controlar a pandemia de HIV.
Hoje, a posição do Brasil no cenário mundial espelha aquela que o próprio Bolsonaro ocupou ao longo de quase três décadas no Congresso Nacional: isolado, conhecido por suas loucuras e sem qualquer influência.
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