Gilmar compara Lava Jato com nazi-fascismo e diz, sobre diálogos: “É conversa do PCC?”

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes afirma que havia uma ideia na força-tarefa da Lava Jato de exercer poder por intermédio da perseguição que tinham oportunidade de fazer com a operação que conduziam. “Havia uma ideia talvez de se fazer política via perseguição criminal”, afirmou o ministro, nesta entrevista exclusiva à TRIBUNA DO NORTE (…)
Ele faz críticas enfáticas aos integrantes da Lava Jato, que foi recentemente desarticulada pelo atual procurador-geral da República, Augusto Aras. Para o ministro, as mensagens que revelaram conversas entre os procuradores e o o ex-juiz Sérgio Moro mostram uma atuação que precisa ser investigada.
“O conteúdo das mensagens às vezes dão asco. A ideia, por exemplo, de transferir alguém para um presídio, para que fale ou delate; de alongar a prisão. Veja essa delegada que teria falsificado depoimento. O que isso significa? Conversa de procuradores ou é conversa de gente do PCC? Tudo isso é muito chocante”, destacou. (…)
Qual o risco que o país corre, quando o Judiciário, e mais especificamente o STF, é atacado como foi pelo deputado Daniel Silveira (PSL-RJ)?
O que aconteceu no Brasil, para gente iluminar um pouco esse fenômeno? Houve um tal enfraquecimento e debilitamento do sistema político, e talvez agora fique mais claro, sobretudo se olharmos as revelações que vêm sendo feitas com relação à Lava Jato ou pela Lava Jato 2. Essas novas revelações… Havia uma ideia talvez de se fazer política via perseguição criminal. Isso resultou em quê? No esfacelamento do sistema político tradicional e facilitou a eleição do residente Bolsonaro, com esse discurso da antipolítica e também de figuras como este deputado, que atacava as instituições. Veja, é até um discurso muito curioso, porque defendem o Al-5, que fechou o Congresso Nacional, que permitia a cassação de deputados, que permitiu censura à imprensa, que permitiu aposentadorias de ministros do Supremo. [Agora] Defendiam o fechamento do Supremo. Qual é a proposta concreta? A rigor, nada. Veja que o próprio presidente da República, depois de eleito, teve imensas dificuldades de se entender com o seu partido. Acabou saindo [da legenda pela qual foi eleito, o PSL). Quer dizer, ele percebeu que, entre aqueles 55 parlamentares, não teria talvez um time. Foi buscar apoio depois em outras forças. Acabou fazendo agora essa combinação com o Centrão. Então, nós vivemos um momento muito curioso após aquele transe de 2018. Isso se fez de que forma? Com um grupamento de promotores e juízes e aliança com a mídia. É preciso dizer isto e sempre tenho chamado a atenção dos seus colegas responsáveis por isso. A mídia de alguma forma foi aliada desse modelo, que se imaginava estar renovando o Brasil. Hoje estamos aprendendo que no fundo era uns tiranetes, sujeitos que tinham pouca visão da democracia, pouco compromisso com o Direito e, certamente, muito interesse no seu próprio empoderamento. O conteúdo das mensagens às vezes dão asco. A ideia, por exemplo, de transferir alguém para um presídio, para que fale ou delate; de alongar a prisão. Veja, essa delegada que teria falsificado depoimento. O que isso significa? Conversa de procuradores ou é conversa de gente do PCC? Tudo isso é muito chocante. Fazer cooperação internacional com os
procuradores americanos ou suíços, porque assim o dinheiro vem? O que isso significa? Mas se deu a ideia de que essa gente poderia estabelecer quais eram as
regras, como deveríamos interpretar a Constituição. O massacre para falar de alguém que vocês conhecem bem – a que submeteram o Marcelo Navarro [ministro do Superior Tribunal de Justiça], que é oriundo do Rio Grande do Norte, tanto que ele deixou de integrar a turma criminal, que era para onde fora designado. Isso tem a ver com algum tipo de padrão civilizatório? Ou indica, na verdade, um nazi-fascismo? Isso precisa ser olhado com muito cuidado. E essa gente é que estava alimentando a chamada nova política, vazando depoimentos para influenciar no processo eleitoral. Tudo isso que os senhores conhecem e nós estamos fazendo a revisão disto. A política continuará a ter virtudes e defeitos. Os defeitos têm de ser combatidos, mas dentro de um quadro de normalidade, afirmando-se que, sem política e sem políticos, nós não temos democracia.
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