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Globo descobre tardiamente que Bolsonaro é uma ameaça à democracia

Do editorial do jornal O Globo.

O ataque à imprensa profissional e as torpes agressões a Patrícia Campos Mello, jornalista da “Folha de S.Paulo”, são parte de um desejo autoritário de garrotear as instituições. Nada é por acaso. A radicalização avança com suporte nas redes, onde atuam milicianos digitais facilmente identificados. Trata-se de um fenômeno, de antes dos nossos tempos, em que autoritários já chegavam ao poder usando os canais da democracia — o voto, a representação popular — para destruir por dentro a própria democracia. Há projetos de poder similares no campo da esquerda.

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É impensável não apoiar a liberdade de culto. Mas deve-se saber o que esses governos entendem por liberdade religiosa. O presidente Bolsonaro com suas falas debochadas, mal-educadas, na saída ou entrada de palácio, aplaudido por sua claque, cria uma atmosfera antidemocrática, acirra o radicalismo.

É neste ambiente que o ministro do Gabinete de Segurança Institucional, Augusto Heleno, aparece, gravado involuntariamente na manhã de terça, irritado com o que chama de “chantagens” de parlamentares nas negociações sobre os vetos presidenciais à Lei de Diretrizes Orçamentárias. Depois, em uma reunião, Heleno conclamou o presidente a chamar o “povo às ruas” contra o Congresso.

Bolsonaro pediu calma ao ministro. Mas é ele que tem contribuído para este ambiente que já vinha polarizado. Quando o chefe sobe o tom, e até toma atitudes desqualificadas, a tropa acha que é sinal de avançar.