Globo diz que diplomacia bolsonarista torna Brasil pária também no continente

Do editorial do jornal O Globo.
Falta muita coisa à política externa — se é que ela pode ser chamada assim — de Jair Bolsonaro. Entre tantas carências, não há a preocupação necessária e essencial com a América Latina, nem sequer com os vizinhos mais próximos. Também não se atenta para a necessidade de o presidente da República atuar como um agente da diplomacia. Nem todos têm o dom, mas um dirigente que se aproxima de seus pares presta ajuda substantiva a seu país.
Por ser movida a ideologia, a diplomacia bolsonarista também carece de visão estratégica. Se houvesse, Bolsonaro não teria se engajado na reeleição de Donald Trump como se fosse um republicano radical, sem considerar que governa um país que precisa manter boas relações com os Estados Unidos e ficar equidistante na política interna. Trump perdeu, e a diplomacia profissional do Itamaraty, ou o que resta dela, precisa agora abrir rotas de aproximação com o futuro presidente Joe Biden.
A mesma percepção fora de foco Bolsonaro tem da América Latina, para ele secundária. Nos primeiros dois anos de governo, não quis se aproximar nem de políticos com maior identificação ideológica, como Iván Duque, da Colômbia, ou Sebastián Piñera, do Chile. São raros os telefonemas que troca com presidentes da região. Evita participar de reuniões de cúpula. Não esteve nos encontros virtuais, no início de dezembro, do Foro para o Progresso e Desenvolvimento da América do Sul (Prosul) e da Aliança para o Pacífico, organizados por Piñera. Abandonou uma reunião do Mercosul, antes de Alberto Fernández assumir a presidência do bloco em nome da Argentina.
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O Brasil precisa primeiro provar que passou a combater a destruição da Amazônia, para que uma atuação diplomática conjunta com os outros integrantes do bloco possa ajudar no momento seguinte. Infelizmente, é difícil que uma política externa maniqueísta saiba aproveitar as oportunidades de aproximação, como fazem aqueles países que superam as desavenças ideológicas na busca de objetivos comuns.