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Governo Alckmin infiltrou PM em Tinder para prender manifestantes, dizem vítimas

Da Ponte Jornalismo:

 

Além de provas forjadas, torturas e declarações inventadas, a prisão no domingo (4/9) de 26 manifestantes anti-Temer pela PM do governador Geraldo Alckmin (PSDB) pode ter se valido de uma outra técnica típica dos regimes totalitários: a infiltração de agentes disfarçados do governo com o objetivo de neutralizar movimentos de oposição.

Dos 26 manifestantes presos, 18 foram detidos no Centro Cultural São Paulo (CCSP), na Liberdade, região central de São Paulo, quando se preparavam para ir à manifestação na avenida Paulista. Eles acreditam que foram denunciados à PM por um participante do grupo que se identificava como Baltazar Mendes, o Balta. Enquanto os demais detidos eram presos e conduzidos ao Deic (Departamento Estadual de Investigações Criminais) em duas viaturas e num ônibus, Baltazar foi levado sozinho numa outra viatura e nunca chegou à delegacia.  Para os manifestantes, Balta era um P2 — nome dado aos policiais do serviço reservado da Polícia Militar, que atuam em investigações, sem farda e com identidades falsas.

Balta mantinha uma página no aplicativo de paquera Tinder, em que adotava o típico perfil de um esquerdomacho — um cara que se vangloria de ter posições políticas progressistas para se dar bem com as mulheres. Logo abaixo do rosto barbado de Balta, vinham um breve manifesto louvando a liberdade e a igualdade e, no final, uma citação em inglês (“Democracia é o caminho para o socialismo”) atribuída ao filósofo e revolucionário alemão Karl Marx. (A citação indica que o suposto PM não fez direito sua lição de casa, já que Marx nunca disse isso.)

Uma das conversas de Tinder lida pela reportagem da Ponte mostra que Balta não perdia tempo. Logo após se apresentar, o rapaz já começava a perguntar a respeito das manifestações anti-Temer.

Os jovens detidos no CCSP contam que faziam parte de um grupo informal, com cerca de 40 membros, organizado dois dias antes, via Whatsapp, entre pessoas que haviam se conhecido nas passeatas contrárias ao presidente Michel Temer (PMDB) . “A gente formou um grupo para se encontrar, mas tinha muita gente que não se conhecia. Esse grupo foi feito justamente para juntar uma galera pra ir pro ato, pra ficar um grupo grande e de certa forma servir de proteção, por causa da repressão policial que estava tendo”, contou D., uma estudante que pediu para não ser identificada.

A Ponte teve acesso a parte das mensagens trocadas nos grupos de Whats e em nenhuma delas encontrou menção a planos de praticar atos de violência ou desordem, como alegou o comando da PM ao justificar a prisão dos jovens. A maioria dos membros está na faixa dos 20 anos e alguns eram membros do movimento de estudantes  secundaristas. Com 37 anos, Balta chegou ao grupo por intermédio de outra militante, também mais velha do que os demais. “Ele estava de xaveco com uma amiga minha, e foi ela quem trouxe Balta para o grupo”, explica G., outro dos manifestantes detidos.

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