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Governo Bolsonaro não pode deturpar o que estamos fazendo, diz presidente da Anvisa sobre maconha medicinal

Maconha. Foto: Wikimedia Commons

Reportagem de Rafael Barifouse na BBC Brasil.

A proposta da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) de regulamentar o cultivo da cannabis para pesquisa e produção de medicamentos colocou o órgão em conflito com alguns dos membros do alto escalão do governo de Jair Bolsonaro (PSL) e entidades médicas do país.

Os ataques mais duros vieram do ministro da Cidadania, Osmar Terra (MDB), que, em entrevista ao site Jota, acusou o diretor-presidente da Anvisa, William Dib, de ser “pró-droga” e disse que, se as regras forem aprovadas, a Anvisa “pode até acabar”.

No início do mês, Bolsonaro falou a jornalistas que cabe a Terra tratar do assunto. “Ele diz que isso abre as portas para o plantio de maconha em casa”, afirmou o presidente, um entendimento que a Anvisa diz não ser amparado pelas regras em debate, que preveem o plantio apenas por pessoas jurídicas.

O ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, defendeu a mesma posição, ao dizer à Folha de S. Paulo ser contra a liberação por ver nela uma forma de legalizar o uso recreativo da maconha.

O Conselho Federal de Medicina (CFM) e a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABM) também se manifestaram neste sentido, ao questionar a eficácia de medicamentos à base de cannabis e dizer que a regulação do plantio pode “causar forte impacto na sociedade em sua luta contra o narcotráfico e suas consequências”.

O presidente da Anvisa diz à BBC News Brasil que “a sensação que dá é que as pessoas não leram o projeto”. “Queremos discutir ciência e medicamentos à base de cannabis. Misturar isso com o efeito deletério das drogas é misturar assuntos divergentes.”

Quanto à acusação de ser a favor das drogas, Dib diz ser um equívoco de Terra. “Nunca tinha ouvido esse tipo de coisa. Acho que ele me conhece muito pouco. Nunca dei nenhum tipo de declaração a favor das drogas.”

O presidente da Anvisa afirma não haver problemas se Bolsonaro e seus ministros discordam da proposta e se manifestam contra, mas afirma que seu papel “não é polemizar com o governo, muito menos com o ministro Osmar Terra”.

“Não vamos ficar atacando pessoas nem dizendo o que são ou deixam de ser por um projeto baseado em pesquisas cientificas”, diz Dib. “Cada um faz o que acha melhor, só não pode deturpar o que estamos fazendo.”

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