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Guilherme Boulos em entrevista: “Rico tem que aprender a pagar imposto no Brasil”

Boulos concedeu uma entrevista à jornalista Juliana Bevilaqua do Pioneiro do ClickRBS.

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Pioneiro: O que o senhor e o PSOL defendem para o Brasil?
Guilherme Boulos:
 A nossa candidatura defende um projeto de mudança profunda no país, que vai enfrentar as desigualdades e democratizar o sistema político. Nós colocamos três propostas fundamentais. Uma é no dia 1º de janeiro de 2019, se nós ganharmos as eleições, nós vamos propor um plebiscito para que o povo brasileiro possa decidir se quer manter ou revogar as medidas tomadas por esse governo ilegítimo do Michel Temer. A Reforma Trabalhista que tirou direitos, a emenda constitucional 95 que congelou investimentos sociais pelos próximos 20 anos, a entrega do pré-sal para empresas estrangeiras. O povo tem que decidir sobre isso. Esse governo do Temer não tem legitimidade, e um Congresso desmoralizado para aprovar medidas tão graves. Uma segunda medida para enfrentar o abismo social brasileiro… saiu pesquisa recente da Oxfam, organização britânica (sobre a desigualdade social no Brasil): seis bilionários brasileiros têm mais renda e riqueza do que 100 milhões de pessoas. Isso é inadmissível, é uma barbárie. Para enfrentar isso, nós temos que colocar na mesa o financiamento do Estado brasileiro. Rico tem que aprender a pagar imposto no Brasil. Quem sustenta o Estado é pobre e classe média, que é quem paga imposto de verdade. Os súper ricos, os grandes empresários, os bancos não pagam praticamente nada. É uma farra no sistema financeiro. Queremos enfrentar isso com taxação de grandes fortunas que está prevista na Constituição, com tributação de lucros e dividendos que quase todos os países do mundo têm, inclusive, com isenção das taxas mais baixas do Imposto de Renda, mas que os que têm mais pagam mais e os que têm menos pagam menos. Isso vai permitir recurso para um investimento público maciço que vai gerar emprego e permitir serviços de saúde, educação, moradia, enfim, tudo o que é necessário para melhorar a qualidade de vida do nosso povo. E um terceiro e último ponto que faz parte dessa nossa agenda básica é democratizar o sistema político. Hoje as pessoas não se sentem representadas. Esse sistema está falido. Maior parte do nosso povo não vê alternativa na política porque, efetivamente, esse sistema não representa as maiorias. Representa um por cento, representa as oligarquias que sequestraram o Estado brasileiro, por isso nós temos que colocar na mesa que esse modelo de Presidencialismo de coalizão, que virou um balcão de negócios, de apoio parlamentar por cargo, esse sistema esta falido. Nós precisamos estabelecer outro modelo democrático com participação popular, com plebiscitos, referendos, em que o povo seja consultado sobre as questões fundamentais. Democracia não é apenas apertar um botão a cada quatro anos e depois não decidir mais nada. Não pode ser cheque em branco para os políticos.

O PSOL surgiu de uma dissidência do PT e sempre houve muitas críticas de ambos os lados. Agora, o PSOL está  empenhado na defesa do ex-presidente Lula? Por quê?
Nós do PSOL, o conjunto dos movimentos sociais que compõem essa aliança que se expressa na nossa candidatura, entendemos que há uma verdadeira injustiça sendo levada a cabo. A condenação do Lula é política, com objetivo claro de retirá-lo do processo eleitoral. Não houve nenhuma prova. Foi um processo conduzido sem amplo direito de defesa, passando por cima de vários ritos judiciais e, portanto, isso se demonstrou uma farsa judicial. Isso não começou com Lula e não termina no Lula, ou seja, não se trata de defender o Lula, o PT. Nós temos diferenças, críticas e já tivemos a oportunidade de colocar no debate político. Agora, ter diferenças não vai nos fazer coniventes com injustiça.

O senhor acredita que Lula conseguirá ser candidato?
Nós defendemos o direito dele se candidatar à Presidência.

O senhor acompanhou o ex-presidente Lula antes de ele se entregar à Polícia Federal. Sobre o que conversaram?
Foi um momento de resistência a uma ordem judicial injusta, uma definição de prisão absurda porque, veja, é uma coisa impressionante você ter, por exemplo, o Temer. O Temer tem provas a dar com pau contra ele, tem gravação dele comprando o silêncio do (ex-presidente da Câmara) Eduardo Cunha no porão do palácio, tem malas de dinheiro e o Temer está governando o país. O Aécio Neves: gravação dele pedindo mesada para o Joesley Batista, dizendo até que ia matar o primo antes de delatar e ele está no Senado fazendo leis. Contra o Lula não tem uma gravação, uma prova, um extrato, uma mala e ele está preso em Curitiba. Então, essa percepção de injustiça foi que nos levou a estar com ele no Sindicato dos Metalúrgicos (em São Bernardo do Campo).

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Guilherme Boulos. Foto: Gibran Mendes/Divulgação