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Há pessoas literalmente morrendo sufocadas em casa, diz especialista no Amazonas

Manaus (AM): pacientes vão do hospital ao cemitério

Da Coluna de Rubens Valente no UOL.

O número de pessoas mortas em domicílios aumentou 38% no Amazonas no ano passado, durante a pandemia do novo coronavírus, em comparação com 2019. É o que aponta um levantamento inédito da Arpen-Brasil (Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais do Brasil).

O total de mortos em residências passou de 3.201 pessoas, em 2019, para 4.418 no ano passado. O local da morte é sinal da incapacidade do sistema hospitalar de internar, intubar e tratar os pacientes com Covid-19 , de acordo com o pesquisador e epidemiologista Jesem Orellana, da Fiocruz/Amazônia. E o colapso já se repete em 2021, de acordo com o especialista, com um crescimento anormal de mortes em domicílio nas duas primeiras semanas de janeiro em Manaus.

Levantamento da rede pública de saúde citado pelo pesquisador mostra que nos dez primeiros dias de dezembro de 2020 morreram 64 pessoas em domicílios em Manaus. Nos dez primeiros dias de janeiro, porém, o número saltou para 137 – aumento de 114%. No primeiro dia de 2021 morreram onze pessoas em residências. O número passou para 15 no dia 8, 14 no dia 9 e 27 no dia 10 de janeiro.

“Há pessoas literalmente morrendo sufocadas em suas casas”, disse o especialista. “São centenas de pacientes em fila para internação em leito clínico e de UTI [Unidade de Terapia Intensiva]. Na terça-feira recebi dois chamados desesperados de conhecidos pedindo alguma dica para internar parentes deles em Manaus. É o colapso. Um parente meu, com 80% de saturação, estava praticamente sem respirar. E não tem a menor possibilidade de internar em leito. Estou revivendo o que assisti em abril de 2020. É simplesmente uma repetição, mas em uma escala maior”, disse Orellana.

De acordo com o pesquisador, estão lotados os 465 leitos de UTI para casos confirmados de Covid-19 e 80 leitos para casos suspeitos, enquanto há “centenas” de pessoas aguardando a internação. Na comparação com setembro do ano passado, a ocupação de leitos clínicos por pacientes com síndrome respiratória aguda grave por Covid-19 aumentou 636%.

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