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Haddad: ‘A fala de Guedes sobre domésticas expressa que, na economia, as coisas voltarão à sua ordem’

Fernando Haddad (Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil)

Da coluna de Fernando Haddad na Folha:

Na viagem em que Lula recebeu das mãos da prefeita de Paris, Anne Hidalgo, o título de cidadão honorário da cidade —concedido durante sua permanência na PF—, tivemos a oportunidade de visitar o Laboratório de Desigualdade Mundial e conhecer a equipe liderada pelo economista Thomas Piketty.

Em ensaio na revista piauí, fiz uma afirmação que gerou bastante controvérsia à época (jun.17): “durante o governo Lula, os ricos estavam se tornando mais ricos e os pobres, menos pobres. Por seu turno, as camadas médias tradicionais olhavam para a frente e viam os ricos se distanciarem; olhavam para trás e viam os pobres se aproximarem. Sua posição relativa se alterou desfavoravelmente”. Tentava explorar os impactos políticos dessa dinâmica.(…)

Bolsonaro parece engajado na perversão de alimentar o ressentimento das classes médias espremidas. A fala fantasiosa de Guedes sobre a ida de empregadas domésticas para a Disney é mais do que uma manifestação preconceituosa. É a declaração de que, na economia, as coisas voltarão à sua ordem, cada um no seu lugar.

Isso talvez explique por que alguém que corta o Bolsa Família do Nordeste, dispensa médicos em tempos de epidemia, transfere recursos da educação, enaltece policiais amotinados e congela o salário mínimo goze ainda de alguma consideração.