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Haddad: alvos preferidos do ‘bolsonavírus’ são mulheres, pobres, pretos, nordestinos, LBGTs…

Fernando Haddad durante debate na Rede Globo (Crédito: AFP)

Da coluna de Fernando Haddad na Folha:

Em tempos de pandemia, vale a pergunta sobre os maiores males que afligem a nação. A antropóloga Lilia Schwarcz, no livro “Sobre o Autoritarismo Brasileiro” (que todo jovem deveria ler), descreve as pragas trazidas pelos colonizadores da América portuguesa. São velhos conhecidos nossos: escravismo, patrimonialismo, mandonismo, patriarcalismo, intolerância etc.

São, de fato, nossas características congênitas. Convivemos com elas e, de certa maneira, muitos de nós as naturalizam. Não há como superá-las sem cultivar a liberdade e radicalizar a democracia, incluindo sua dimensão econômica.(…) A democracia, entretanto, em condições específicas, também adoece e, por vezes, “seleciona” agentes que põem em questão seus fundamentos. Em momentos de crise aguda, o sistema imunológico da democracia se debilita, e um vírus oportunista pode se instalar no corpo social.(…)

Esse vírus oportunista tem, portanto, seus alvos preferenciais. Mulheres, pobres, pretos, nordestinos, LBGTs, professores, jornalistas, cientistas, artistas etc., ou seja, todos aqueles que representam, de alguma forma, uma ameaça, ainda que difusa, ao status quo são considerados inimigos. Se a pessoa somar dois desses atributos (jornalista mulher p.ex.), as coisas se complicam ainda mais.

Assim, nada mais errôneo do que considerar Bolsonaro um raio em céu azul ou um acidente de percurso. Bolsonaro é a recidiva agressiva de nossas patologias insuperadas, em face de um sistema imunológico debilitado. Ele tanto intui isso que as mentiras que dissemina não são camufladas, o que lhe permite aferir com precisão o grau de adesão cega a seu movimento pestilento.

(…)