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Haddad: Vice indicado para atender interesses de Doria só reforça a fragilidade de Bruno Covas

João Doria (PSDB), Bruno Covas (PSDB) e seu candidato a vice, Ricardo Nunes (MDB). Bruno Santos/Folhapress

Da coluna de Fernando Haddad na Folha:

No Brasil, a preocupação com o vice é justificada. O modelo é ruim. O vice é suplente de cargo majoritário. Não tem voto. No Senado Federal a situação é vexatória. Figuras inexpressivas assumem a cadeira como suplentes quando os titulares deixam o mandato. Na Presidência da República, o problema não é menor. O primeiro presidente brasileiro não terminou o mandato, e o vice que assumiu não cumpriu a Constituição, que determinava que se convocasse eleição. (…)

No último domingo, esta Folha demonstrou, por exemplo, que Covas foi o prefeito que, nos últimos 15 anos, menos investiu na cidade (apenas R$ 8,2 bilhões, quase 50% menos do que na minha gestão, que atingiu o recorde de R$ 15,4 bilhões). Apesar de contar com muito mais recursos –só a diminuição do serviço da dívida que renegociei rendeu um fluxo de R$ 10 bilhões em quatro anos–, Covas mal concluiu as obras que eu deixei em andamento. O problema agora é que, se por qualquer motivo, seja uma mera licença, seja renúncia, Covas se afastar do cargo —como fizeram Serra e Doria—, quem assume, temporariamente ou não, é uma pessoa ainda mais apagada. Se os empresários que apoiam Boulos consideram Covas um gestor sem brilho, imagino o que dirão de Ricardo Nunes.

Nem vou entrar no mérito das acusações que lhe são feitas, de trambicagem nas creches e violência doméstica. Falo do seu completo despreparo para assumir o cargo de prefeito por um único dia e da completa irresponsabilidade da decisão de colocá-lo na linha sucessória da maior cidade do país. Atribuem a decisão ao governador Doria, que, como sempre, estaria pensando no seu projeto político. Seu atual vice, do DEM, foi escolhido com esse propósito, e o objetivo agora seria amarrar o MDB de Nunes. Se isso aconteceu de fato, só reforça a fraqueza do atual prefeito.

(…)