Historiadora diz que ‘Maradona foi o oposto da mercantilização do futebol’
Do Globo:
Diego Armando Maradona foi uma lenda dentro e fora dos campos. O esportista, morto nesta quarta-feira, aos 60 anos, notabilizou-se tanto pelos dribles quanto pelas polêmicas. Para Lívia Gonçalves Magalhães, professora so Instituto de História da Universidade Federal Fluminense e autora do livro “Histórias do Futebol” (Arquivo Público de São Paulo), o eterno Camisa 10 da Argentina deve sua importância histórica e fama também pela personalidade destemida e sua vida política intensa. Sem medo de se posicionar, Maradona criou um vínculo com o povo latino-americano ao assumir e encarnar os valores do continente, explica a historiadora, em entrevista por telefone. (…)
Maradona é visto como um Deus na Argentina e no mundo não apenas pelo que fez em campo. Como a personalidade influenciou na construção do mito?
É até difícil para nós brasileiros estudarmos e entendermos, porque é uma idolatria diferente que temos com nossos ídolos. O fascínio tem muito a ver com o lado humano do ídolo. Ele fez gols incríveis, era um craque, mas vai além. Tem a ver com a experiência de vida passional que ele teve. O Maradona erra, o Maradona ficou doente, lidou publicamente com a questão do vício, se opôs à Fifa… Nós nos enxergamos nesse lado humano dele, nos identificamos quando o vemos chorando ou expondo sua fragilidade. Ele é emoção.
Uma emoção que parece cada vez mais distante do futebol moderno…
“O Maradona é o oposto da mercantilização que se vê no futebol. O oposto do público sentado nas cadeiras, do torcedor mais preocupado com a selfie, toda essa lógica da arena. Na repercussão internacional da sua morte, inclusive no Brasil, percebe-se como ele simboliza e resgata um futebol de paixão.”
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