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Homem que passou 76 dias perdido no mar fala como sobreviveu à deriva num barco de borracha

Callahan após finalmente chegar à ilha de Marie-Galante, no arquipélago de Guadalupe. Foto: Divulgação

Steve Callahan ficou à deriva por 76 dias em um pequeno bote de borracha no Oceano Atlântico.

Em 1982, o arquiteto naval americano viajou sozinho num veleiro que ele mesmo desenhou e construiu, quando uma tempestade causou um rombo na embarcação.

“No início, me manter aquecido foi um dos principais desafios, sobretudo à noite. E principalmente porque estava molhado metade do tempo, e ventava muito. Você pode morrer de hipotermia em questão de minutos ou horas. Depois tem a sede. Você consegue viver até dez dias sem água, se tiver sorte. Tive muitos problemas para conseguir água, porque chovia muito pouco. Eu dependia dos purificadores solares de água, que estavam no kit de emergência. Estruturas parecidas com balões. Você põe água dentro, o sol faz a água evaporar e esse vapor é coletado e vira a água que você bebe. Eu nunca tinha encontrado alguém que soubesse fazer esses purificadores funcionarem. Levou um bom tempo para eu aprender a usá-los, e produzir cerca de meio litro de água por dia”, conta.

Ele seguia para a ilha de Antígua, no Caribe, e, após o acidente, esperava avistar um navio ou chegar ao destino ou à América do Sul.

“Depois de duas semanas, eu estava faminto. O peixe cru, um dourado-do-mar, estava uma delícia. Mas ao poucos eu passei a ter menos interesse na carne, e mais, nas outras partes mais gosmentas. Os olhos, por exemplo, eram como duas bolinhas de fluídos. Corações, ovas, fígado…ou mesmo o conteúdo do estômago. Os dourados comiam outros peixes, que muitas vezes estavam semidigeridos no estômago, e eu dizia, ‘Oba! Pickles!’. Acho que meu corpo sabia que essas coisas eram essenciais para minha sobrevivência. Eles supriam os minerais e vitaminas que eu não teria como arrumar de outro jeito, nessa dieta praticamente à base de proteína. Mas mesmo com peixes, eu não estava ingerindo nutrientes suficientes. Eu perdi um terço do meu peso, praticamente tudo na parte de baixo do meu corpo”.

Só no 76º dia no oceano Steve Callahan encontrou uma pequena ilha, Maria Galante, do arquipélago de Guadalupe.

“Foi uma festa de emoções. Bastante intensas. Quando cheguei à praia, foi realmente como se tivesse renascido. Coisas banais como uma cor que eu não tinha visto todo esse tempo…’Vermelho! Nossa que lindo!’. Ou vozes humanas. Quando ouvi alguém cantando pela primeira vez , foi como se estivesse no céu. Foi muito especial”.

Em algumas semanas, ele se recuperou e pegou uma carona em barcos viajando por ilhas do Caribe.

Com informações da BBC.