Imagem do Brasil se deteriora rapidamente, aponta fundação alemã
Do Valor:
Não há solução à vista para a profunda crise política no Brasil, o presidente Michel Temer tem conseguido sobreviver com base em manobras questionáveis e o país perde importância no cenário internacional. A avaliação é feita — e com essas palavras — em um relatório divulgado hoje pela Fundação Konrad Adenauer, ligada à União Democrata-Cristã (CDU), o partido da chanceler alemã Angela Merkel.
Em seis páginas, o “think tank” germânico narra os principais acontecimentos desde a delação do empresário Joesley Batista e descreve como “farsa” o julgamento do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sobre a chapa vitoriosa nas eleições presidenciais de 2014. A decisão mostra que “até mesmo a Justiça vem sendo mais e mais politizada”, escrevem Jan Woischnik e Alexandra Steinmeyer, que chefiam o escritório da Konrad Adenauer no Brasil.
Para eles, a coligação de partidos que sustenta o governo Temer está ameaçada de ruir. “O Executivo e o Congresso estão menos voltados ao ato de governar do que à contenção dos danos, enquanto a Justiça se politiza, causando prejuízos duradouros à democracia brasileira. Por enquanto, não há saída à vista.”
O relatório lembra que, na visão de observadores políticos, o processo de anulação das eleições de 2014 era tido como a possibilidade menos complicada de encerrar o mandato de um presidente “quase insustentável”. Cita que boa parte do Congresso Nacional e o próprio Temer são alvo da Operação Lava-Jato, mas que ele tem feito manobras para interferir nas investigações. “Não obstante”, pondera em seguida a fundação dos democrata-cristãos, “a saída de Temer tampouco parece ser a solução do problema”. Isso porque a escolha indireta de um sucessor provavelmente colocaria no Palácio do Planalto um representante do establishment político, que está contaminado pelos escândalos de corrupção e é visto com desconfiança por muitos brasileiros.
“O presidente Michel Temer perdeu credibilidade e continua conseguindo manter-se no poder por meio de manobras políticas questionáveis. Enquanto isso, as reformas estruturais urgentemente necessárias estão paralisadas”, conclui o relatório, que elogia a Lava-Jato. A operação é descrita como uma mudança na cultura de impunidade, chegando aos mais altos círculos do poder e do empresariado. Há, no entanto, um alerta: “A influência política nas investigações seria um sinal fatal para o Estado de Direito”.
No parágrafo final do texto, os representantes da Konrad Adenauer no Brasil avaliam que a imagem do país sofre prejuízos rapidamente no panorama internacional. “O Brasil tem se envolvido muito com questões internas, e as crises atuais tampouco têm permitido que o país volte sua atenção para acontecimentos além de suas fronteiras”, dizem.
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