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Indígenas pedem testagem em massa na véspera do STF julgar liminar crucial para conter pandemia

Mario Nicácio Wapichana, vice-coordenador da Coiab, particpa de uma audiência com deputados. © Guilherme Cavalli : Cimi

De Adriana Moysés no site da RFI.

A epidemia de Covid-19 continua avançando entre os indígenas e já atinge 147 povos no Brasil. O plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) irá julgar nesta segunda-feira (3) a liminar concedida no início de julho pelo juiz Luís Roberto Barroso, que determinou ao governo federal garantir o atendimento de indígenas que estejam em áreas demarcadas ou não.

A tragédia da Covid-19 se agrava diariamente com a omissão do governo de Jair Bolsonaro. Segundo o balanço online da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), até o domingo, 2 de agosto, 21.646 indígenas foram infectados pelo novo coronavírus e 620 morreram em decorrência da doença. Os casos suspeitos atingem 884 nativos. Mas tanto Bolsonaro quanto os militares que formam a cúpula do governo, incluindo o general Eduardo Pazuello, interino na pasta da Saúde, continuam se omitindo na proteção a essas populações vulneráveis.

O julgamento no STF é o primeiro no tribunal após o recesso do Judiciário. A sessão começa às 15h e será transmitida pelas redes sociais do Supremo e da Apib. Para a organização nacional indígena, manter a liminar é fundamental para evitar uma catástrofe maior. A Apib também espera que o STF reveja um dos pontos não atendidos por Barroso: a retirada de invasores de áreas duramente afetadas pela epidemia: as Terras Indígenas (TIs) Karipuna e Uru-Eu-Wau-Wau (RO); Kayapó, Munduruku e Trincheira Bacajá (PA); Araribóia (MA); e Yanomami (AM/RR).

A subnotificação de casos da Covid-19 entre indígenas que não vivem em terras homologadas tem complexificado o enfrentamento da epidemia, diz Yaponã Bone Guajajara, jovem membro da Apib no Maranhão, entrevistado pela RFI. Do total de mortos pela Covid-19 até o momento, a maioria – 335 indígenas – morava fora de terras demarcadas. O governo federal decidiu tratar esses índios como “ruralistas”, relata com indignação Yaponã, o que na prática significa que eles não contam com o atendimento especializado da Secretaria Especial de Saúde Índígena (Sesai).

O Maranhão tem 16 territórios demarcados e uma população de 34.000 indígenas. Desse total, segundo organizações de base que se esforçam para manter a contagem atualizada, pelo menos 3.200 foram contaminados. “Mas muitos indígenas com sintomas da Covid-19 não buscam a unidade básica de saúde do município ou o distrito sanitário especial pelo preconceito que sofrem”, destaca Yaponã. “Falta atendimento adequado e principalmente testes”, explica Yaponã.

Um levantamento feito por uma ONG na Terra Indígena Bacurizinho mostrou, no início de julho, que de 25 indígenas testados, incluindo idosos e gestantes, 14 estavam infectados pelo novo coronavírus. “Ou seja, 64% deram positivo. Já pensou se fizerem em toda a população?”, questiona a jovem liderança indígena.

A insegurança alimentar e a falta de água potável tem tido forte impacto para os povos. “Quando acaba a comida, muitos saem para vender seus artesanatos e acabam se contaminando”, lamenta o Guajajara. Ele também critica a falta de barreiras sanitárias e a invasão constante de terras por grileiros, garimpeiros e madeireiros, que levam a Covid-19 e outras doenças às aldeias.

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