Inspirado na alt-right americana, Bolsonaro adota tática de troll para testar limites e ganhar visibilidade, diz filósofo

De Giuliana Vallone na BBC Brasil.
Inspirados pela extrema direita americana, o presidente Jair Bolsonaro e seu entorno adotam estratégia de comunicação dos trolls, os provocadores da internet, afirma Rodrigo Nunes, professor de Filosofia Moderna e Contemporânea na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio).
Em entrevista à BBC News Brasil, ele diz que foi justamente assim que o político chegou aonde chegou.
“Você perguntava para as pessoas qual era o atrativo dele e a conversa era sempre ‘Ah, ele fala o que todo mundo pensa’. Aí você apontava para alguma coisa que ele tinha dito, dizia que era grave, e recebia como resposta: ‘Ah não, mas ele está só brincando'”, afirma. “Ou seja, é a figura que ao mesmo tempo fala o que todo mundo está pensando e está só brincando, a figura do troll, justamente, que está sempre nesse jogo dúbio, entre o que é brincadeira e o que é sério.”
“Ele está sempre introduzindo temas que são ‘polêmicos’ — que na verdade são comentários racistas, homofóbicos ou machistas etc. —, e a reação [de indignação] provocada atrai atenção para ele, lhe dá visibilidade”, avalia.
Para ele, antes mesmo da consagração da chamada alt-right americana, Bolsonaro já adotava a tática em sua carreira como parlamentar, baseado em uma “compreensão instintiva que ele tinha de sua posição política na época, totalmente periférica — ele era um político completamente sem importância, cuja única visibilidade vinha disso.”
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