Instituto com contrato milionário com o governo faz pesquisa com empate entre Lula e Bolsonaro

Na última terça-feira (13) o Instituto Paraná Pesquisas divulgou um levantamento apontando empate técnico entre o ex-presidente e candidato Lula (PT) e o presidente Jair Bolsonaro (PL). No primeiro turno, Lula aparece com 39,6% das intenções de voto, enquanto Bolsonaro está com 36,5%. Com informações da Folha.
Com pequenas diferenças, esse resultado se repete desde maio. Entretanto, instituições como Ipec, Datafolha e Quaest indicavam liderança de Lula no período. Diferente de outras pesquisas, os levantamentos do instituto têm resultados menos negativos para o atual presidente.
Em março deste ano, o governo federal assinou um contrato de R$ 1,6 milhão com o Paraná Pesquisas, para fazer sondagens sobre políticas públicas, com a vigência de um ano.
Um dos donos do instituto, Murilo Hidalgo, diz que essa decisão fez parte de um planejamento estratégico e que a empresa nunca disputou uma concorrência pública. “Temos confiança no trabalho que realizamos e a margem de acerto do instituto pode ser verificada em pesquisas realizadas em outras eleições”, disse Hidalgo à Folha.
Hidalgo ainda diz que atua há 32 anos no mercado e afirma que sua relação com Bolsonaro é “meramente institucional”, e que mantem “contato com os demais políticos de outras correntes”.
O empresário afirma que o financiamento de pesquisas próprias “não é algo exclusivo do instituto”: “Faz parte da estratégia de marketing da empresa. Vale lembrar que nas últimas eleições municipais, o Ibope e outras empresas utilizaram-se da mesma estratégia e não temos conhecimento de que essas empresas foram também questionadas”, disse Murilo.
A empresa declarou ao Tribunal Superior Eleitoral, ter financiado 17 de suas próprias pesquisas eleitorais para a Presidência da República até o início de setembro, que configura 46% do total, uma postura que gera desconfiança no setor.
“É estranho que um instituto que vive de vender pesquisas financie demais seu trabalho”, disse Duilio Novaes, presidente da Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa.
Para Novaes, esse acordo possibilita a ocultação de um eventual contratante, abrindo caminho para caixa dois. De acordo com dados da Abep, a quantidade de pesquisas financiadas pelos próprios institutos teve um crescimento maior, que pulou de 5 para 54, de janeiro a junho.
Os critérios técnicos dos estudos feitos pelo intistuto vinham despertando suspeitas da Abep e seus associados. Em 2017, a associação questionou um levantamento do instituto, que mostrava o suposto apoio da população brasileira a uma intervenção militar: “Dois meses depois, publicaram uma explicação sobre os nossos questionamentos na página deles na internet”, conta Novaes. A empresa teria ouvido entrevistados de forma on-line, projetando dados nacionais.
“Por essa metodologia, eles teriam de possuir uma base digital de dados de toda a população brasileira, algo que nem as maiores empresas do país possuem”, afirma o presidente da Abep.