Intelectuais e artistas da América e da Europa fazem alerta contra Jair Bolsonaro em manifesto
Do El País Brasil.
O voto decisivo deste domingo no Brasil marcará um antes e um depois na história do maior país da América Latina. A vitória do extremista de direita, Jair Bolsonaro, prevista pelas pesquisas, mergulhará o Brasil numa era incerta, na qual, se todas as ameaças forem cumpridas, a democracia sofrerá um claro revés. Diante desse cenário, o EL PAÍS buscou a opinião dos principais intelectuais, pensadores e personalidades da cultura da América e Europa, que avaliam a possível chegada ao poder de Bolsonaro.
Walter Salles, cineasta brasileiro
Alice Braga, atriz brasileira
Sergio Ramírez, escritor nicaraguense
Jair Bolsonaro, o favorito para vencer o segundo turno eleitoral no Brasil, surge do desencanto na esquerda que, sendo culpada por corrupção, matou muitas esperanças: não era a corrupção um vício exclusivo da direita? Mas também surge da transformação de um eleitorado imenso, o maior e mais variado na América Latina, em uma grande escola de samba onde a mais pervertida demagogia, Deus, ordem e família, dão os passos de sua dança macabra; ensaia sua passagem a nostalgia de ditaduras militares para que sejam submetidos à lei os criminosos que reinam nas favelas, e não a pobreza; cantam à capela suas loas ao salvador da pátria patriarcal os pregadores das igrejas fundamentalistas que, graças aos rendimentos e dízimos, vivem com o luxo dos reis do baralho; mexe o traseiro a complacência dos grandes magnatas com um olho fechado para a corrupção dos capos dos partidos da direita e o outro aberto para enviar à forca os da esquerda; e enquanto os tambores rufam, o rei Momo vai em sua carruagem seguido por sua corte da qual as mulheres foram expulsas, coroado em uma quaresma eleitoral que, logo veremos, terá sua Sexta-Feira Santa.
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Adolfo Pérez Esquivel, argentino ganhador do Nobel da Paz de 1980
Noam Chomsky, linguista
A eleição de Bolsonaro será uma tragédia para o Brasil e a região. Na verdade, para o mundo. Literalmente. Um de seus planos mais escandalosos consiste em abrir a Amazônia para que seja explorada por seus eleitores ricos do agronegócio, com consequências devastadoras para o meio ambiente global, assim como para os habitantes indígenas, que, para ele, não merecem nem um centímetro quadrado de espaço, como declarou em um chamamento a um virtual genocídio.
Bolsonaro não é apenas um desses líderes vergonhosos de extrema direita que degradam a política contemporânea. Vai muito além disso. Talvez seu momento mais vil − e há muitos − tenha sido durante o grotesco “golpe suave” da direita, quando um Parlamento formado por notórios criminosos destituiu a presidenta Dilma Rousseff baseando-se em motivos irrisórios. Bolsonaro dedicou seu voto ao chefe da espantosa unidade de tortura da ditadura que foi responsável pela feroz tortura de Rousseff. Talvez não seja surpreendente, vindo de alguém que critica a ditadura só porque esta não assassinou 30.000 pessoas, como na Argentina. Uma lista de declarações horrendas encheria muitas páginas. Seus programas para o país, caso postos em prática, seriam muito benéficos para os investidores e para os super-ricos, à custa da população considerada sem valor, uma categoria ampla, enquanto o país decai para uma caricatura lamentável.
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