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Janine: “O PT tem de ir além do PT”

De Renato Janine Ribeiro, em entrevista ao El Pais:

 

Pergunta. Em um ano, o país teve três ministros da Educação.

Resposta. É, de fato é uma situação preocupante.

P. Não deveria haver um limite? Educação e saúde ficarem de fora da barganha política?

R. Essa é uma crítica que muitos fazem ao Governo. De que ele não soube dar à educação e à saúde a segurança que essas pastas deveriam ter. Nos dois casos a falta de dinheiro foi grande, mas haviam ideias tanto minhas quanto do Chioro que não tivemos condições de implantar.

P. Como foi a sua saída? Foi frustrante?

R. Não. A saída não foi. A presidenta foi super educada e dava para perceber que havia uma crise muito grande no país e que estava muito difícil manter a educação do jeito que estava. O que foi frustrante foi estar em um período de crise diante do qual não havia uma posição coesa de Governo de como lidar com a crise na educação. Isso foi frustrante. A questão da greve [das universidades federais], foi uma questão muito injusta e eu penso que houve um erro da minha equipe em não tomar medidas mais imediatas.

Quando começou a greve a minha equipe, que já estava lá, considerou que uma negociação iria resolver, mas não resolveu. Deveríamos ter ido à público, na televisão, e dito: ‘o dinheiro de que dispõe o Governo é esse, as reivindicações são impossíveis, e não vamos atender’. Ao invés disso, o Governo ficou muito calado, talvez porque estava acostumado a lidar com greves quando havia dinheiro. Para você ter ideia, uma das reivindicações dos funcionários era de passar a trabalhar 30 horas por semana ao invés de 40 horas, mas com o mesmo salário. Isso é uma coisa que exigiria contratação de novos profissionais e nada justifica isso em um momento de crise econômica. Deveríamos ter enfrentado desde o começo, publicando as propostas deles, as nossas respostas, e fazendo a batalha da opinião pública.

P. Será que não era um desgaste político que o Governo não queria enfrentar?

R. Esse é o problema. Talvez o resumo de tudo que eu tenho que dizer pra você é que o PT tem que ir além do PT. O PT fez coisas muito boas para o país, fez um trabalho extraordinário de inclusão social, mas estamos em uma hora em que muito do que foi feito de inclusão social tem que ser revisto para que valha o que tem êxito. O PT ficou, de certa forma, prisioneiro de uma base, em parte sindicalista, que diante das crises recebia mais dinheiro. Se aumentava salários. Mas não se tem condições de aumentar salários de ninguém hoje.

O PT deveria enfrentar claramente essa questão e dizer: ‘não podemos aumentar salários e, então, funcionários públicos, vocês que sempre foram uma base grande do PT e que tiveram anos e anos de valorização salarial, vocês vão ter que fazer sacrifícios. Nós temos a meta de melhorar o Brasil agora e retomar o crescimento’. Para isso, o PT tem que deixar de lado uma posição que ele sempre teve, que foi a de transferir dinheiro para essa base. Ele tem que ver que não há esse dinheiro para transferir, tem que dizer isso com clareza e se as pessoas não entenderem ou não quiserem entender, é outro problema. A questão agora é gastar melhor o dinheiro que tem. Há uma série de medidas que poderiam ser feitas, mas que trariam problemas com os grupos políticos que apoiam o Governo.