Jânio de Freitas: “primeiros passos do governo, e de Bolsonaro, parecem planejados para preocupar militares”
A Coluna de Jânio de Freitas na Folha de S.Paulo aborda os primeiros dias de nova presidência. “Os primeiros passos do governo, e do próprio Jair Bolsonaro, parecem planejados para preocupar os militares. O descritério da entrega de cargos na problemática Educação e nas complexas Relações Exteriores, por exemplo, não precisaria ser acompanhado pelo coro de desvarios, vindos de vários ministros, para indicar o perigo à frente. Já esses dias iniciais desacreditam muito o propalado sistema de contenção de desvarios operado pelos 11 militares do governo”.
O jornalista desenvolve o raciocínio: “o problema prático é o alto risco de embates internos, com potencial de crises. Em sentido mais amplo, o que está em jogo para os militares, se a contenção falha, é o comprometimento das Forças Armadas como responsáveis pelo governo desnorteado. Por intermédio de generais reformados, o Exército aceitou esse risco, curvando-se outra vez à ilusão primária de salvador da pátria. Não teria como negar sua responsabilidade, tanto na identificação que permitiu a um oficial excluído, sem credencial alguma para tal crédito, como na participação associada à condição de militares. Na formação dessas linhas cruzadas, Marinha e Aeronáutica mantiveram-se à distância, entregues a um profissionalismo exemplar. Talvez jamais tenha havido aqui outro período de tão correta conduta militar como a dessas duas instituições, nos últimos tempos”.
E conclui: “por isso a generalização da palavra militares, em assuntos políticos atuais, é uma utilidade imprecisa e injusta. Militares da Marinha e da Aeronáutica não estão nos jogos da política. Não deixam de ser incógnitas, porém, na eventualidade de um insucesso governamental que pesaria, por certo, no conceito das Forças Armadas em geral. Mais uma vez. Militares que entrem na política têm que ser políticos. Sempre existiram. A dubiedade nunca levou a bom resultado. É esta, no entanto, a propensão visível nos desvarios que já escandalizam. Inaugurados, por sinal, pelo próprio Bolsonaro: sua primeira medida na Educação foi de cunho religioso e antiescolar, liberando para faltas os alunos que invoquem motivo religioso”.