Jânio se insurgiu há mais de meio século contra as mamatas dadas pelo governo às companhias jornalísticas
No livro A Renúncia de Jânio, o jornalista Carlos Castelo Branco, o Castelinho, um dos maiores comentaristas da história da imprensa brasileira, descreve uma cena reveladora. Castelinho, assessor de imprensa de Jânio, conta os bastidores de um pronunciamento em que o presidente denunciou os privilégios dados às empresas jornalísticas com dinheiro do povo.
Jânio se insurgiu contra uma coisa específica: o papel dos jornais, sobre os quais não incidia imposto. É o “papel imune”. Isso aconteceu em 1961. Passado mais de meio século, a mamata sobrevive, e a ela se somaram muitas outras, como as verbas multimilionárias da propaganda de empresas federais.
Abaixo, as palavras de Castelinho:
“Lembro-me da noite em que, na presença de ministros e auxiliares, falou à nação pela TV. Encomendara-me, uma semana antes, a organização de uma rede de emissoras que abrangesse o país inteiro, pois iria fazer uma comunicação de extrema importância. Não me disse de que se tratava e recomendou-me estrito sigilo até a véspera do discurso. Seria seu primeiro pronunciamento público desde o dia da posse.
(…)
À tarde, quando cheguei ao palácio para instalar o estúdio na Biblioteca do Alvorada, vi sobre a mesa um exemplar de O Estado de S. Paulo, de domingo. Em cima um bilhete do presidente: Não mexam neste jornal. Preciso dele.
Só soube do que se tratava quando Jânio o ergueu na mão para exibi-lo audaciosamente ao país como fruto de privilégios, o esbanjamento de papel comprado com subvenção oficial, pago, portanto, pelo povo.”