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“Janot é uma espécie de Trump da Justiça”, diz procurador

Do procurador Celso Antônio Três à Folha:

Folha – Qual é a sua leitura da carta do procurador-geral da República?

Celso Antônio Três – É um editorial do chefe da instituição, exaltando menos esta do que a liderança daquele.

(…)

Janot agiu para evitar vazamentos de documentos e delações?

A estratégia de investigação diz que quanto menos o alvo souber, melhor. A lei da delação impõe sigilo até a apresentação da denúncia. Preserva a apuração e a honra do delatado até então indefeso. A invocação do interesse público para divulgar é demagógica. Derrete, não apenas o mundo político, mas o Estado, dilapidando a economia, os investimentos e os empregos.

(…)

A carta de Janot é paralela aos debates sobre o processo sucessório da PGR. É peça para sua recondução?

Quem nomeia procurador-geral para derrubar o próprio governo é o PT. Temer jamais cometeria suicídio. Exemplo é [a nomeação de] Alexandre Moraes ao STF. Janot está fora.

O sr. apoia a recondução de Janot?

Não. Um novo mandato é chavismo.

Janot tem cumprido o que prometeu?

Sim. Garante a livre atuação dos procuradores e zela pelas vantagens corporativas.

Na carta, se define como “democrata congênito e convicto”.

É uma defesa de que ele criminaliza a política, espécie de [Donald] Trump da Justiça.

O procurador-geral deixou-se fotografar mostrando um cartaz com os dizeres “Janot, você é a esperança do Brasil”. Como essa exposição foi vista?

Janot ainda tem grande prestígio. Porém, há o desgaste natural da gestão e exposição, defasagem salarial pelo boicote do Congresso, tudo contribui para o declínio.

O desfecho da carta (“Coragem e confiança!”) soa como slogan de campanha. O sr. acredita que Janot pretende se candidatar a cargo público?

É campanha a procurador-geral da República. Resta saber se algum partido o acolheria.