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Jean Wyllys: Gloria Perez “festeja difamação de quem denuncia crimes do governo Bolsonaro”

Glória Perez

Da coluna de Jean Wyllis no UOL:

A novelista Gloria Perez festejou, em seu perfil oficial no Twitter, o retorno do “Pavão Misterioso”, perfil apócrifo criado para espalhar mentiras e falsificações grotescas contra o editor do site de notícias The Intercept, Gleen Greenwald, seu esposo e deputado federal David Miranda e contra mim (recentemente o tal Pavão incluiu em suas narrativas mentirosas também os deputados federais Marcelo Freixo e Paulo Pimenta).

Os crimes de calúnia e difamação perpetrados contra nós por esse perfil apócrifo, cuja volta ao Twitter foi festejada por Gloria Perez –perfil que é extensão da nojenta campanha baseada em fake news que deu a vitória a Bolsonaro, seus filhos e outros políticos do PSL–, devem-se ao fato de o Intercept estar denunciando, numa série de reportagens ainda inconclusas, o envolvimento do ex-juiz e agora ministro da Justiça de Bolsonaro, Sergio Moro, e de membros do Ministério Público Federal que integram a Operação Lava Jato, numa conspiração antirrepublicana para prender Lula sem provas dos crimes de que lhe acusam, impedindo-o de participar das eleições de 2018, na qual aparecia como líder absoluto nas pesquisas de intenções de votos.(…) A atitude de Gloria Perez me chocou. Uma coisa é ser antipetista e ter votado em Bolsonaro (é um direito dela, como é meu direito ser antifascista e ter votado em Fernando Haddad). Outra coisa é festejar a calúnia e a difamação contra quem está denunciando crimes que envolvem integrantes do governo Bolsonaro. Vale tudo? Não há mais regras a serem respeitadas? A verdade tornou-se uma questão de opção?(…)

Logo, ao ver que ela festejou a atuação de um perfil que perpetra crimes contra mim, perguntei-me: o que teria acontecido a ela? Seria extensão do equívoco ou mau-caratismo? Em “O Clone” e “Caminho das Índias”, Gloria criou uma personagem que atuava contra os mocinhos por meio da mentira. Alicinha e Ivone, vividas respectivamente por Cristiana Oliveira e Leticia Sabatella, mobilizaram as audiências justamente porque, por meio delas, Gloria mostrava que a mentira, como meio de ascensão social e/disputa amorosa, é um veneno letal. Então, como pode alguém que abomina a mentira em sua ficção festejá-la na vida real? A novelista não consegue perceber que a pessoa por trás do Pavão age como suas odiosas personagens?(…)

Gloria não é mais uma bolsonarista sem educação formal nem recursos materiais nem subjetivos para se proteger da propaganda enganosa. A novelista é mulher inteligente, rica, famosa, viajada e com milhares de seguidores em suas redes sociais. Escreve para a emissora de maior audiência do país. Como pode agir como se estivesse convencida de que um perfil apócrifo no Twitter tem mais autoridade moral e está mais com a verdade do que um jornalista que ganhou um Prêmio Pulitzer e um Oscar?

(…)