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Jornalista diz que mídia corporativa comete fake news ao comparar Bolsonaro a Lula

Jair Bolsonaro e Lula. Foto: Wikimedia Commons/Reprodução/YouTube

De Cynara Menezes em Socialista Morena:

Tudo começou na eleição de 2018, quando o Estadão teve a pachorra de, em editorial, igualar um professor, Fernando Haddad, a um energúmeno defensor da ditadura, Jair Bolsonaro, defendendo a tese surreal de que, para o eleitor, seria uma “escolha muito difícil” optar entre os dois. Recentemente, uma revista semanal que ninguém nunca levou a sério porque muda de inclinação política de acordo com a ocasião, publicou uma capa onde equipara Bolsonaro a Lula como “inimigos da nação”, um representando a “extrema direita” e outro a “extrema esquerda”. Colunistas da direita liberal na imprensa comercial também não se cansam de estabelecer falsas simetrias entre o petista e o atual presidente que ela própria, a mídia, ajudou a eleger.

Mas o que Lula, afinal, tem a ver com Bolsonaro? Nada. Comparar os dois é cometer fake news, coisa que o autodenominado “jornalismo profissional” acusa a extrema direita de fazer. Serve à narrativa dos próceres do “centro” (eufemismo para a velha direita neoliberal) rumo à sonhada vitória na eleição presidencial que a população acredite que Lula e Bolsonaro são a mesma coisa. Que tanto faz que um ou outro esteja no poder: Lula e Bolsonaro são igualmente nocivos ao país. Será? Por que então quando Lula deixou a presidência após 8 anos, em 2010, o povo estava tão satisfeito que ele tinha 87% de aprovação e popularidade, enquanto Bolsonaro patina nos 37% no segundo ano de mandato? Alguém está mentindo, e neste caso não são os bolsonaristas.

A primeira diferença entre Bolsonaro e Lula é, para começar, de classe. O petista vem de uma família pobre de retirantes nordestinos, sétimo filho de um casal semianalfabeto de Caetés, Pernambuco, que migrou para São Paulo fugindo da fome. Lula começou a trabalhar ainda criança, no cais de Santos, como ambulante aos 8 anos e engraxate aos 9; no início da adolescência, foi ajudante de tinturaria. Mudou-se para a capital paulista com a mãe, separada do pai, concluiu o ginásio e, já empregado numa metalúrgica desde os 14 anos, fez o curso de técnico de torneiro mecânico do Senai. Já Bolsonaro é paulista de Glicério, descendente de italianos e alemães. Seu pai, Percy Geraldo, era dentista prático e dava duro para sustentar os seis fihos, mas, embora a vida da família fosse simples, nenhum dos Bolsonaro conheceu a fome. Jair logo ascenderia para outro patamar da pirâmide social, ao entrar para o Exército, aos 17 anos, em 1973. Lula, metalúrgico e sindicalista, estava na base da pirâmide e permaneceu fiel à sua origem de classe; Bolsonaro transmutou-se em membro da guarda pretoriana do capitalismo, confortavelmente instalado entre os que defendem a propriedade privada e os poderosos.

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