Jovens de classe média criam grupo de “justiceiros” no Rio
Dois dos 14 jovens moradores da zona sul do Rio detidos no fim da noite desta segunda-feira no Aterro do Flamengo, na zona sul, sob acusação de tentar agredir dois rapazes de Cosmos, na zona oeste, confirmaram em depoimento ter marcado um encontro pelo Facebook para “patrulhar o Aterro em busca de potenciais autores de delitos” na região, de acordo com a Polícia Civil.
Na sexta-feira, um adolescente negro de 15 anos foi espancado e preso sem roupa pelo pescoço, com uma tranca de bicicleta, a um poste da Avenida Rui Barbosa, no Flamengo. “Os dois casos podem ter relação porque o modus operandi é parecido e são todos garotos de classe média, mas precisamos de provas”, disse a delegada da 9ª Delegacia de Polícia (DP), Monique Vidal, responsável pelas duas investigações.
O caso chocante do jovem preso ao poste pelo pescoço foi revelado neste sábado, 1, pela coordenadora da organização não governamental (ONG) Projeto Uerê, Yvonne Bezerra de Mello. Na ocasião, Yvonne afirmou que ele “quase foi assassinado pelos ‘justiceiros’.”
O adolescente foi socorrido por bombeiros e levado para o Hospital Souza Aguiar. A Secretaria Municipal da Saúde afirmou que ele foi atendido por volta de meia-noite, mas “deixou o hospital à revelia” no início da madrugada.
Os 14 detidos têm idade entre 15 e 28 anos e moram em seis bairros da zona sul, segundo os boletins de ocorrência. “Pega, vamos matar, são ladrões”, teria dito um deles, conforme o depoimento de uma das vítimas.
“O Estado e a sociedade carioca não podem tolerar a formação de grupos de vigilantes privados, sob o risco de aumentar a violência e alimentar uma ‘cultura do extermínio’ que atinge, majoritariamente, jovens pobres e quase sempre negros”, disse nesta terça-feira o diretor executivo da Anistia Internacional no Brasil, Átila Roque.
De acordo com Roque, a cena do menino negro, desnudo, preso pelo pescoço a um poste, é “mais um alerta do quanto ainda podemos afundar como sociedade quando as instituições públicas não conseguem responder ao estado de emergência social em que vivemos”.
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