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Kátia Abreu: Produtores rurais que estão alegres hoje vão chorar amanhã

Do Estadão:

Uma das líderes da bancada ruralista no Senado, Katia Abreu (PDT-TO) disse que a política do presidente Jair Bolsonaro para o meio ambiente pode fechar o acesso de produtos brasileiros no exterior e causar prejuízos ao agronegócio.

“Os agricultores que estão alegres hoje vão chorar amanhã.” Ex-presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e ex-ministra da Agricultura, a senadora, que era símbolo da retórica antiambiental, afirmou que “evoluiu”. Esse discurso, na avaliação dela, é “antimercado” e representa atraso. Para ela, cabe ao Congresso atuar como um “aceiro”.

O discurso do governo pode prejudicar o agronegócio?

Bolsonaro está se comportando como antimercado. Hoje, as empresas mais valorizadas na bolsa tem um componente fortíssimo tecnológico e de sustentabilidade. Todo mundo já incorporou isso como necessidade, e não como uma coisa de politicamente correto. Quem é que não está vendo, mais do que nós, agricultores, que as chuvas mudaram, a temperatura mudou, rios que não secavam antes, que eram perenes, e hoje secam? Quem nega isso está fora da realidade. O presidente precisa entender que meio ambiente e agronegócio não são uma questão gastrointestinal. Agora, dizer que não há exageros, principalmente de alguns membros do Ministério Público Federal ligados à área ambiental? Tem sim, preconceitos, ideologias. ONGs mal intencionadas que fazem do assunto um negócio, uma corporação, são empresas, com milhares de empregos, não são anjos da natureza. Mas dizer que todas as ONGs são empresas e corporações? Não, tem muita gente fazendo trabalho sério. Não dá para dizer que todos os produtores são iguais, todas as ONGs são iguais, todos os parlamentares são iguais

Por que o agronegócio apoia esse discurso?

Os produtores estão enganados. Os produtores estão alegres hoje e poderão chorar amanhã. Temos o agro que produz na roça, que apoia o Bolsonaro. Mas o agro tem outras cadeias: a produção de insumos (adubos, fertilizantes e agroquímicos), o processamento (frigoríficos, esmagadores de soja) e industrialização e os transportadores. Esses três últimos estão desesperados, porque quem vai bater na porta com a cara e a coragem para vender são eles. Isso tudo é agronegócio também. Bolsonaro está transferindo toda a sua visão reacionária para o agro. Não está preocupado com o agro, mas com os eleitores do agro. Se ele estivesse preocupado com o agro, ele diria: ‘meus amigos, vamos ter cautela’. Isso seria a postura de um presidente da República que se preocupa com o setor, com a economia.

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