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“Lar de moradora, respeite”: mulher cria faixa para proteger famílias da violência policial na favela

Moradoras do Complexo do Viradouro se reúnem para instalar recados aos policiais Imagem: Arquivo pessoal

Eloanah Gentil em depoimento a Fabiana Batista no UOL:

No início da quarentena, meu trabalho aderiu ao isolamento social -e permanece até hoje, e não deixou de remunerar seus funcionários. Mas não fiquei trancada em casa. Como ativista social, ajudei na distribuição de cestas básicas e kits de higiene para as pessoas em situação de vulnerabilidade da minha favela. Além disso, disponibilizei a internet da minha casa para as crianças estudarem até que as apostilas das escolas chegassem. (…)

Já as operações policiais continuam sem interrupção, e, mesmo dentro de casa, as pessoas se sentem cada vez mais expostas à violência. Lembro do dia [19 de agosto] em que a PM [Polícia Militar] se instalou, sem previsão de saída, aqui na favela: eu passei o dia em minha rotina normal de trabalho e a polícia chegou de noite. Durante os dias que se passaram, os abusos policiais foram muitos. A minha casa, graças a Deus, não foi invadida, mas muitas pessoas relatam que tiveram seus pertences quebrados pela polícia, que invadiam as casas e amedrontavam a todos.

Depois de alguns dias a associação de moradores tentou realizar uma manifestação, mas por medo de represália, os moradores não participaram. Desse fracasso, eu, por ser ativista e conhecer uma rede ampla de instituições internacionais, decidi utilizar essas ferramentas e dar visibilidade às denúncias. Chamei as mulheres aqui do Morro da União [Complexo do Viradouro, em Niterói, RJ], que toparam imediatamente. Produzimos lençóis com a frase “Lar de moradora, respeite”, e penduramos em nossas janelas. Decidimos que a frase deveria ser no feminino, porque a maioria das que aderiram à campanha é mulher.

(…)