“Lava Jato foi enterrada em silêncio”, diz Bernardo Mello Franco no Globo

Da Coluna do Bernardo Mello Franco no Globo.
Na semana em que o bolsonarismo subiu ao altar com o Centrão, a Lava-Jato anunciou que “deixa de existir”. A nota divulgada na quarta-feira não causou surpresa nem comoção. A operação já havia caído no ostracismo, esvaziada pelo grupo político que ajudou a instalar no poder.
Lançada em 2014, a Lava-Jato prendeu dois ex-presidentes e colaborou com a eleição do atual. Ele mastigou seu maior símbolo, Sergio Moro, e nomeou um procurador de estimação para desmontar a força-tarefa.
O ex-juiz também contribuiu para o desmanche. Trocou a toga pelo palanque e se desmoralizou ao conviver com corruptos e milicianos. Quando tentou dar meia-volta, foi despejado do governo e massacrado nas redes. Hoje é sócio de uma consultoria que lucra com os resultados da operação.
A revelação dos diálogos entre Moro e os procuradores removeu o que restava do verniz ético da Lava-Jato. O ex-juiz tabelou com a acusação e comemorou denúncias contra réus que desejava condenar. A pretexto de combater a roubalheira, atropelou a lei e abandonou o dever da imparcialidade.
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Depois de sete anos de barulho, a Lava-Jato foi enterrada em silêncio. As panelas que cantavam em sua defesa não saem mais dos armários.
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