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Le Monde denuncia cruzada da extrema direita nas escolas incentivada por Bolsonaro

Com informações da RFI

Le Monde, um dos mais importantes jornais da França (e do mundo) publica neste domingo (18) reportagem a respeito da “cruzada” da extrema direita brasileira contra o sistema educacional, encorajada pelo presidente eleito, Jair Bolsonaro. Entre outras intenções, o diário diz que o objetivo de Bolsonaro é atenuar as críticas à ditadura.

Na capa, o diário francês adverte: “a extrema direita brasileira, convencida de que a escola é assombrada pelo comunismo e pela apologia de comportamentos desenfreados, está apoiando um projeto de lei que visa obrigar os professores à neutralidade e ao respeito às convicções do aluno, de seus pais ou responsáveis”, explica Le Monde.

Assim, os professores estariam impedidos de contradizer as famílias a respeito de temas como educação moral, sexual e religiosa. “E Bolsonaro ainda quer que os alunos possam filmar seus professores para denunciá-los”, acrescenta.

Le Monde descreve uma cena que já se tornou comum entre os apoiadores de Bolsonaro. Em pleno Congresso, o deputado e ex-policial Eder Mauro fez sinal que iria metralhar deputados da oposição que pediam respeito aos professores no plenário da Casa. O tumulto aconteceu durante a apresentação do projeto “escola sem partido”, no dia 13 de novembro. Fomentada pela extrema direita e o lobby evangélico, o texto, rebatizado de “lei da mordaça” pela oposição, é baseado na ideia de que haveria hoje escolas dominadas pelo comunismo, ensinando valores depravados e divulgando a “teoria de gênero”.

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Doutrinação via Facebook

Henrique Cunha, professor de sociologia em uma escola pública de São Paulo, contou ao Le Monde que foi convocado pelo diretor do estabelecimento onde trabalha, pouco tempo após a vitória de Bolsonaro. Um pai havia reclamado que seu filho estava sendo “doutrinado”. O professor foi criticado por comentar um post no Facebook do aluno. “Sempre comento. Não julgo, mas tento argumentar, iniciar um debate com os alunos”, justifica Cunha.

Vários professores de todas as disciplinas, afirmam que há algumas semanas vêm sofrendo retaliações de pais e também de suas hierarquias. “Todos os dias, preciso verificar acusações. Há uma verdadeira desconfiança. Esse texto dá voz ao obscurantismo, não vivemos mais no mesmo país! ”, lamenta Raquel Dias Araújo, do Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (Andes).

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