Lima Duarte sobre atração de Regina Duarte por Bolsonaro: “Chapeuzinho Vermelho se encantou pelo Lobo Mau”

De Dado Abreu no site da revista Poder de Joyce Pascowitch.
Testemunha ocular dos 70 anos da televisão brasileira, Lima Duarte participou do primeiro dia da transmissão “no ar” na TV Tupi e de alguns dos momentos mais importantes da nossa teledramaturgia.
Ariclenes Venâncio Martins. Ou Lima Duarte. Ou Zeca Diabo, Salviano Lisboa, Dom Lázaro Venturini, Sinhozinho Malta, Sassá Mutema, ou tantos outros personagens célebres dos 70 anos da televisão brasileira. Ator de mil faces, Lima, certa vez ao ser comparado a Charlie Chaplin e Marlon Brando, definiu assim sua missão artística: “Somos todos atores de um papel só. O meu é o brasileiro”. E assim tornou-se querido e presente na retina do telespectador desde o primeiro dia da TV Tupi, canal 3 de São Paulo, em 18 de setembro de 1950.
“Eu estava lá, vi tudo isso, ninguém me contou. Trabalhava na Rádio Tupi. Um dia, disseram que vinha a televisão, não tínhamos noção do que seria. Imaginávamos o Jeca Tatu, do Monteiro Lobato, que, quando fica rico, compra uma televisão para fiscalizar os trabalhadores no cafezal. Pensávamos: ‘Será que o Chateaubriand [Assis, dono do grupo Diários Associados do qual a TV Tupi fazia parte] quer fiscalizar a gente?’”, lembra Lima Duarte, testemunha viva, aos 90 anos e com precisão jovial, convidado especialíssimo desta edição do Ensaio de PODER.
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Que o diga a colega Regina Duarte, a Viúva Porcina, com quem Sinhozinho Malta formou dupla histórica em Roque Santeiro. A passagem relâmpago e polêmica da atriz pela Secretaria de Cultura do governo Bolsonaro – foram dois meses no cargo – é vista por ele como “vergonhosa e lamentável”. “A Chapeuzinho Vermelho se encantou pelo Lobo Mau. Acho que os agentes culturais estão no mesmo nível do presidente, um prato raso. A sabedoria, a inteligência e a arte estão sendo perseguidas de todas as maneiras. Mas isso vai passar, tudo passa. E o brasileiro sobreviverá.” Como todos os papéis de Lima Duarte vívidos na lembrança dos telespectadores.