Luis Fernando Verissimo: ‘No fim, o ódio ao PT foi maior do que o amor pela democracia’

‘No fim, o ódio ao PT foi maior do que o amor pela democracia’, diz Verissimo em sua coluna no jornal O Globo.
Leia alguns trechos:
Quando, no futuro, escreverem a história destes dias estranhos, um capítulo inteiro — ou, vá lá, uma nota de pé de página — terá que ser sobre os omissos. Aqueles que, se esperava, iriam diretamente para a barricada anti-Bolsonaro assim que se definisse o adversário no segundo turno, e não foram, ou demoraram a ir, ou se desinteressaram pelo futuro do país e foram cuidar das suas hortas. Enfim, se omitiram. É claro, nenhum novo apoio declarado ao Haddad no segundo turno diminuiria a avalanche de votos que elegeu Bolsonaro. Mas os omissos deveriam ter pensado não na consequência imediata da sua omissão, que era livrá-los de qualquer suspeita de estarem ajudando (horror!) o PT, mas pensado em suas biografias. No fim, o ódio ao PT foi maior que o amor pela democracia.
Um dia o deputado Jair Bolsonaro lamentou publicamente que a ditadura — que, segundo ele, nunca existiu, já que o golpe de 64 foi só um movimento de tropas, como disse, incrivelmente, o ministro Toffoli, presidente, ai de nós, do Supremo Tribunal Federal —, que a ditadura, como eu dizia quando me interrompi tão rudemente, não tivesse eliminado o Fernando Henrique Cardoso quando podia. Fernando Henrique, que é um gentleman, nunca respondeu, mas bem que agora poderia ter dado uma cutucada no capitão, como represália, anunciando seu apoio a Haddad.
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A Marina Silva levou 15 dias para decidir quem apoiava. O Ciro Gomes, em vez de ir para a barricada, foi para a Europa.
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