Apoie o DCM

Lula é ovacionado em campanha da prefeita Anne Hidalgo em Paris: “Quando forem votar, deixem o ódio em casa”

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva discursa na prefeitura de Paris na segunda-feira (3). Ricardo Stuckert

De Márcia Bechara no site da RFI.

Se o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez um discurso em tom mais foral ao receber o título de Cidadão Honorário de Paris na segunda-feira (2) das mãos da prefeita Anne Hidalgo, ele parece ter reservado a “paixão” para outro evento, mais tarde na mesma noite. À vontade ao lado dos políticos socialistas, Lula participou ao lado de Dilma Rousseff e Fernando Haddad de uma rodada de debates e pronunciamentos durante um evento da campanha de Hidalgo pela reeleição ao comando da capital francesa. Um Lula inspirado entrou em cena e arrebatou aplausos dos franceses, criticando abertamente o atual presidente do Brasil, Jair Bolsonaro.

Lula continua nesta terça-feira (3) sua agenda movimentada na capital francesa, onde se reúne com o economista francês Thomas Piketty, conforme anunciado durante o evento de campanha da prefeita Anne Hidalgo (Partido Socialista), realizado nesta segunda-feira à noite no Théâtre du Gymnase, no 10° distrito de Paris. “Quero discutir desigualdade com o Piketty. Quero a humanidade indignada com a desigualdade”, disse o ex-presidente brasileiro. Mais tarde, ainda nesta terça-feira, ele participa de um grande evento do festival Lula Livre, com lotação esgotada, no mítico Théâtre du Soleil da diretora Ariane Mnouchkine, também em Paris.

A participação de Lula na segunda-feira à noite, no comício de campanha de Anne Hidalgo, foi interrompida diversas vezes pelos aplausos do público francês, geralmente contido. “O que vocês conquistaram aqui na Europa, todas as conquistas que vocês obtiveram em tantos anos de luta, agora estão sendo retiradas de vocês”. “E é impressionante, como no mundo inteiro, toda vez que acontece uma crise, são os trabalhadores, e entre eles, os aposentados, que têm que resolver o problema da crise mundial”, disse Lula, muito aplaudido pelos franceses, que se encontram no meio de uma maremoto sócio-político, tentando impedir uma reforma da previdência com greves que já duram três meses.

“No meu país, acabaram de fazer uma reforma trabalhista que retirou todos os direitos dos trabalhadores conquistados no século 20”, criticou o ex-presidente. “Os trabalhadores não são mais chamados de trabalhadores, não têm mais registro formal, não têm mais proteção contra acidente de trabalho, trabalham para aplicativos. São chamados de microempreendedores”, disse, entre risos da plateia. “Quantas lutas a França fez no século 20, quantas guerras, quantas batalhas, quantas greves, quantos trabalhadores foram perseguidos para conquistar o Estado de bem-estar social”, questionou.

Lula lembrou do episódio histórico de 1968, quando a junta militar quis regulamentar o direito de greve no Brasil. “Fui a Brasília tentar evitar a regulamentação da lei. Quando cheguei lá, descobri que não havia nenhum trabalhador no Congresso Nacional. Eram 513 deputados e 81 senadores. E nenhum trabalhador. Neste momento, descobri a necessidade de se criar um partido”.

(…)