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Lula é um homem de marketing intuitivo muito forte, diz publicitário Washington Olivetto

Reportagem de Guilherme Azevedo do UOL.

De Londres, onde vive com a família desde outubro do ano passado, o publicitário Washington Olivetto, 66, diz ter descoberto que pode ver o Brasil de modo amplo e até mais preciso, como quando se assiste a uma partida de futebol no campo.

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Sobre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), preso em Curitiba desde o último dia 7, Olivetto diz que o considera um “homem de marketing intuitivo muito forte” que agora precisa de um novo “briefing”, isto é, de um raio-x para fazer um reposicionamento.

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Seu colega Nizan Guanaes afirmou recentemente mais de uma vez que acredita que Jair Bolsonaro (PSL-RJ) será o próximo presidente da República. Segundo ele, Bolsonaro tem “propostas quentes”, contra “propostas mornas” dos outros. Falou que “Bolsonaro é o Dorflex, é uma solução para a sua dor” [em palestra e em artigo na “Folha de S.Paulo”, em 13 de março último]. Você compartilha essa opinião?

O Nizan já falou isso faz algum tempo e nem sei se ele manteria essa opinião hoje. Essas coisas, eu, que não faço campanha política e, portanto, não sou o melhor julgador ou aconselhador, estão mudando por hora. Acho que, quando o Nizan falou isso, estava se referindo ao fato de que, até aquele momento, e não é uma questão de gosta ou não gosta, o Bolsonaro tinha uma postura mais definida. Que se dilui menos. Mas acho que ainda tem muita coisa para acontecer.

O [ex-presidente] Fernando Henrique Cardoso afirmou que aquela polarização entre PT e PSDB talvez não voltasse a acontecer e ele notava exatamente a emergência do fator autoritário, essa solução dura e imediata. Quer dizer, Bolsonaro é isso, mas será que isso encanta a alma nacional? Como podemos ver isso dentro da cultura popular?

É que momentos de extremos geram outros extremos. Basicamente, é isso.

Então a gente vive um momento extremo?

Momentos extremos facilitam a existência de outros extremos, e o Brasil tem uma característica que não perde, que é o maniqueísmo [visão de mundo que o divide em pares opostos e inconciliáveis, como bem e mal]. O Brasil é um país extremamente maniqueísta, de “gosto disso, não gosto daquilo”. E os extremos se favorecem disso.

Seu coração vai bater por quem [nas eleições]?

Sou um espectador. Tenho a maior curiosidade de saber quem são os candidatos e ouvir [as propostas].

No discurso antes de ser preso, Lula falou que não era mais um ser humano, e sim uma ideia, e que ideias não podem ser presas, não morrem. Você, um defensor e pensador da grande ideia, como interpreta esse discurso?

Lula tentou reviver na memória das pessoas os melhores momentos dele, para exatamente não ser tão visto vivendo aquele momento tão ruim. Tentou lembrar seus momentos bons, como essa metáfora [de ser uma ideia].

Tem um intuitivo muito forte. Foi o que ele tentou fazer.

Você achou que essa estratégia dele foi coerente, tem longevidade?

Não, foi uma ideia para aquele momento.

Se fosse reposicionar o Lula no mercado, como faria?

Eu não saberia. Ainda preciso ver como vai ficar o Lula, é tudo muito indefinido.

Como vai ficar do ponto de vista jurídico?

Sob todos os pontos de vista. Precisa ver qual o nível de desgaste que o Lula sofreu nesse período, da imagem, enfim. Existe toda uma necessidade de gerar um novo “briefing” [um diagnóstico, um raio-x do produto ou serviço, com objetivos claros, no jargão da publicidade] sobre o Lula. O que permaneceu de bom da imagem dele? O que ele perdeu? O que contaminou? O que o vitimizou? O que o denegriu? O que o deixou mais frágil? Tem que saber tudo isso.

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Washington Olivetto. Foto: Reprodução/YouTube