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Lula: “Só o PT é provocado a fazer autocrítica. Se eu mesmo me criticar, o que é que vai fazer a oposição?”

Lula em entrevista ao UOL. Foto: Reprodução/Vídeo/UOL

De Jamil Chade no swissinfo.ch.

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swissinfo.ch: Em sua viagem pela Europa, qual a mensagem que o senhor leva?

L.S.: É a mensagem que eu fui discutir com o Papa Francisco, a questão da desigualdade. Eu cheguei em Paris para receber um título de cidadão parisiense. Depois vou à Alemanha também discutir sobre a questão da desigualdade, e obviamente sempre tentando mostrar o que está acontecendo no Brasil, como é que está a democracia no Brasil, o que é que está acontecendo. 

O Brasil no meu tempo de governo tinha virado protagonista internacional. E eu vou conversar como é que o Brasil virou o que virou agora, o que é que aconteceu no Brasil nas eleições, o que é que está acontecendo no governo. Porque não sei se você percebeu, mas só o PT é provocado a fazer autocrítica. Eu tenho dito o seguinte: toda pessoa que pede para fazer autocrítica é porque não tem crítica. Você não tem crítica para fazer e quer que eu mesmo me critique? Se eu mesmo me criticar, o que é que vai fazer a oposição? Eu cometi um erro muito grave no Brasil, isso aos olhos da elite brasileira, que foi permitir que os pobres conquistassem um mínimo de cidadania, e por isso eles não perdoam e por isso esse processo todo de perseguição, e por isso eu quero brigar, tenho muita disposição para isso.

swissinfo.ch: Mas, em vários países na Europa, vemos a extrema direita ganhando espaço. O que aconteceu com as esquerdas?

L.S.: Há muito tempo eu venho acompanhando as discussões políticas na Europa, eu tinha muita relação com a política europeia, sobretudo com os partidos socialistas. Eu cheguei a ser convidado pra ser presidente da Internacional Socialista e eu disse que não era possível aceitar porque a Internacional Socialista não foi feita para o povo latino-americano dirigir, ela é feita para o povo europeu, ela tem a cara da Europa, ela não comporta um latino-americano dirigindo, até porque o discurso que a gente faz aqui é um discurso que eles faziam logo depois da Segunda Guerra Mundial.

Ou seja, eles conquistaram um estado de bem-estar social, e esse é um defeito nosso da esquerda, ou seja, a luta não pode ser apenas economicista, porque quando você conquista o estado de bem-estar social você pensa que está tudo resolvido, mas não está tudo resolvido, tem outros temas novos que aparecem e que a esquerda tem que se preparar.

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