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Maluf chegou ao poder: Bolsonaro não criou o bolsonarismo, é cria dele

Paulo Maluf (PP-SP) durante discurso na Câmara dos Deputados em setembro de 2015 — Foto: Gustavo Lima / Câmara dos Deputados

Da coluna de Ricardo Kotscho no UOL:

Como pudemos chegar a esse ponto? De onde saiu essa gente toda? Para encontrar respostas a esse teatro de horror e absurdo que estamos vivendo há dois anos, precisamos recuar um pouco no tempo. A extrema direita civil e militar cabocla, rústica, religiosa e ignara, sempre existiu no Brasil, desde a Proclamação da República, e chegou ao poder no golpe de 1964 na longa ditadura dos generais, depois de derrubar os líderes trabalhistas Getúlio, Jango e Brizola, os grandes inimigos de uma elite do atraso sempre derrotada nas urnas. (…)

Maluf ainda seria candidato a presidente na primeira eleição direta pós-ditadura, em 1989, em que saiu vitorioso Fernando Collor de Mello, outro “filhote da ditadura”, como o chamou Leonel Brizola, ex-governador de Alagoas, uma legítima expressão da elite do atraso. Vamos começar a amarrar as pontas. Ao trocar a farda por um terno de político, Jair Bolsonaro passou por várias siglas, depois de se eleger vereador no Rio e deputado federal, mas fez a maior parte da sua carreira nos partidos criados por Paulo Maluf, um populista de direita que ficou conhecido como “rouba mas faz”, alvo de um sem-número de processos de corrupção nas últimas décadas. (…)

Faço essa linha do tempo para mostrar que o bolsonarismo não foi criado por Bolsonaro. Ao contrário, é muito anterior a ele, e vivia enrustido nos armários, bueiros e becos da extrema direita, ocupados por gente ressentida, revanchista e com sede de sangue, que só encontrou voz e vez na campanha eleitoral de 2018. (…) Xenófobos, terraplanistas, homofóbicos, olavistas, preconceitusosos, supremacistas brancos, especuladores, militares de pijama e fraldão, milicianos, agroboys, marombados e viúvas da ditadura, todos se viram agora representados pelo presidente e levados para ocupar a Esplanada dos Ministérios em Brasília, com o alegre apoio do mercado e de setores da mídia grande.

Paulo Maluf só não está no time porque se encontra fora de combate. Se por algum motivo de força maior, o capitão tiver que desocupar a cadeira antes do final do mandato, algo cada vez mais provável, à medida em que o cerco se fecha, uma coisa é certa: mesmo sem ele, o bolsonarismo sobreviverá, veio para ficar. Com ele, uma parte do Brasil mostrou a sua cara, e ela não é bonita. Vida que segue.