Mandetta diz que Bolsonaro parece ter raiva dos mortos pela covid

O ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta deu nota 3, de 0 a 10, para o governo Bolsonaro ao avaliar a condução do Executivo no enfrentamento da pandemia de covid-19. Em entrevista ao jornal O Globo, Mandetta disse que o presidente tem atuação desastrosa na crise, que demonstra mais apreço pela economia do que pela vida das pessoas e parece ter raiva dos brasileiros que perderam a vida para o vírus.
“O número de mortes fala por si. Ele (Bolsonaro) teve uma condução desastrosa. A desautorização do ministro em público, ‘manda quem pode e obedece quem tem juízo’; o ‘e daí?’; ‘não sou coveiro’; ‘gripezinha’; ‘está no final’. Está no final nada. Se teve alguma coisa digna de nota eu não saberia te citar. Nós conseguimos ativar a indústria brasileira de respiradores, foi uma coisa que conseguimos fazer quando eu estava lá, conseguimos abrir 15 mil leitos de UTI, que é uma coisa positiva. Agora, eles deixaram 7 milhões de kits no almoxarifado. O governo federal deixou as pessoas à própria sorte. Não vi nem sequer se solidarizar com quem perdeu um membro da família. É quase como se tivessem raiva das pessoas que morreram. Quem morreu é culpado.”
“Ele falou várias vezes que entre a saúde e a economia, ele ia ficar com a economia. E a população começou a construir as suas linhas de defesa sem contar com a liderança da figura maior do governo. Vimos o Ministério da Saúde falando uma coisa e ele falando outra. Ele começou a criticar todo e qualquer prefeito e governador que fizesse qualquer coisa para diminuir a velocidade de transmissão para não carregar o sistema de saúde, que era o principal problema da doença. Depois ele me troca, coloca um médico. É impossível para um médico com base científica fazer política de governo, firmar uma recomendação, uma prescrição médica. Aí ele põe um militar para oferecer ordem. Faz uma intervenção militar na Saúde, mas um militar não tem a menor noção do que é Saúde. A gente passa a ter um governo federal que sai completamente do enfrentamento da Saúde e com o argumento de que o problema era de logística. Nunca foi, o problema era de Saúde pública, muito mais complexo do que carregar caixa para lá e para cá. E agora tem uma crise tripla, de prevenção, atendimento e vacina.
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