Marco Nanini: “Problema do Brasil não é beijo gay, é a desigualdade social”
Do Estadão

Na ficção Greta, que estreia amanhã, a melhor amiga do personagem de Marco Nanini é uma mulher trans, uma performer interpretada por Denise Weinberg. Ao amigo, ela diz: “Aprende logo a viver sozinho, porque estou morrendo”. Nanini sabe o que arrisca fazendo o papel. Não é só a questão de o personagem ser gay. É a exposição tanto física quanto emocional. Aparecer de nu frontal, aos 71 anos – “E gordo, né?”, ele assume –, não é para qualquer um.
Apesar da exposição da decadência física – “Pronto, ‘tá’ feito. É pegar ou largar” –, ele recebe com prudência as afirmações de que foi “ousado”, “corajoso”. No Cine Ceará, em que Greta terminou como grande vencedor, foi o que mais ouviu. “Mas não sei se é o caso. Se eu pensasse assim, que seria corajoso, acho que travava. Seria sinal de que tinha medo. Os pobres, os velhos, os negros, os gays, as trans estão sendo massacrados todo dia. O problema do Brasil não é o beijo gay, é a desigualdade social”, reflete.
E acrescenta. “Esse avanço do conservadorismo não é coisa nossa, tem ocorrido em todo o mundo. O que é nosso é piorar o que já é ruim.” Fazer esse velho transgressor seria uma bênção para qualquer ator. Nada mais diferente dele que o pai de família careta de A Grande Família, que foi reprisado nas tardes da Globo recentemente. “Será tão diferente assim?”, pergunta-se Nanini. “É a mesma matéria humana. Fiz um com a mesma entrega do outro. Respeito meus personagens para que eles gostem de mim.” Trata-se de dois personagens numa extensa galeria. O caso de Lineu tornou-se especial. “O texto era muito bem escrito e a equipe muito entrosada. Trabalhando tanto tempo junto, a gente criou laços, como uma família de verdade.”
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