Marginais de SP registram um acidente a cada seis horas

Da Veja SP:

(…)Entre janeiro e novembro, 140 acidentes com vítimas foram registrados em um intervalo de 4,5 quilômetros entre as pontes Estaiada e João Dias, no sentido Interlagos. Isso dá uma média de três por semana, o que representa um salto de 80% em relação a 2016. Nenhum outro trecho com a mesma extensão nas duas vias mais importantes da capital concentrou tantas colisões.

Um dos fatores que explicam o problema está ligado ao surgimento de duas pontes na região, a Laguna e a Itapaiúna, a partir de maio do ano passado. Elas criaram um emaranhado de tráfego, formado pelos motoristas que saem da Avenida Dona Helena Pereira de Moraes, ao lado do Parque Burle Marx, e cortam cinco faixas de rolamento para pegar a direção oposta da Pinheiros, passando sobre a Itapaiúna.

“O acesso ainda fica muito próximo da Ponte João Dias, o que amplia esse entrelaçamento de pistas”, observa o engenheiro de trânsito Horácio Augusto Figueira. “É muito carro espremido no mesmo lugar, cortando a frente um do outro para chegar a destinos diferentes.”

Nada menos que 92% dos acidentes por ali envolvem motos, geralmente atingidas por automóveis no momento da troca de faixa. Se não bastasse, nesse trecho da marginal não há pista local, só expressa (com quatro a seis faixas, dependendo do ponto), o que afunila ainda mais o trânsito.

As questões de segurança relacionadas às marginais são tema de debates calorosos desde julho de 2015, quando Fernando Haddad reduziu os limites de velocidade nessas áreas. Na campanha eleitoral de 2016, João Doria prometeu rever a política, e assim o fez em janeiro, poucas semanas depois de assumir a prefeitura — e recolocou as placas de 90 e de 70 quilômetros por hora nas pistas expressas e locais, respectivamente.

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Os dados exclusivos foram compilados por VEJA SÃO PAULO com base em 5 000 boletins produzidos pela Polícia Militar entre 2014 e 2017 e obtidos via Lei de Acesso à Informação. Trata-se de uma média de 130 desastres por mês, 30% mais que em 2016. A aceleração recente nos números ainda freou uma tendência de queda ocorrida após a mudança de Haddad. Em 2016, as colisões graves diminuíram 6%.

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Ao contrário do que muitos imaginam, baseando-se no comportamento imprudente de maior parte da turma, os motoboys são a minoria entre as vítimas. Cerca de 95% dos motociclistas acidentados tinham outras profissões. “Um carro que estava acima da velocidade cortou a minha frente e eu caí”, conta o auxiliar de gerência Edilson dos Santos, sobre uma queda em julho. “Eu estava com minha mulher na garupa, e por sorte não sofremos ferimentos graves”, completa ele, que passou dez dias sem trabalhar por causa de uma fratura na mão e gastou 3 000 reais para consertar sua Honda CG 2015.

(…)

A CET não descarta a possibilidade de proibir a circulação das motocicletas em toda a extensão das marginais, em qualquer horário do dia. “Seria uma ação extrema, se outras não funcionarem”, diz o presidente João Octaviano. Para quem vive do trabalho sobre duas rodas, a medida não vai resolver a questão. “É um tiro no pé, só vamos transferir o problema para outro local”, diz o presidente do sindicato dos motociclistas, Gilberto Almeida. “O fundamental é melhorar a sinalização no solo e limitar a velocidade das motos.”

No período em que revogou a política de Haddad, João Doria anunciou que faria também uma série de intervenções para melhorar a segurança dessas vias. “A população vai perceber a quantidade de serviços, iniciativas, equipamentos, tecnologia e vigilância”, afirmou o prefeito. Até agora, essa revolução não ocorreu.

Quase um ano após a posse do tucano, os camelôs permanecem nas vias, sobretudo na Tietê, ao contrário da promessa da prefeitura de uma fiscalização mais rigorosa para tirar os ambulantes das pistas. Em nota, a gestão municipal diz que apreendeu 50 000 mercadorias entre fevereiro e novembro.

Erika K Nakamura

Erika K. Nakamura, 36 anos, advogada de formação, abraçou a fotografia e o jornalismo por paixão. Com seu iPhone 5 capta imagens originais e surpreendentes dos lugares pelos quais passa. É uma leitora sedenta de livros sobre a história da Inglaterra -- e também dona do coração do jornalista Paulo Nogueira.

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