Matilha do bolsonarismo está sempre atiçada, afirma especialista da UFBA

Da Folha:
Após mais de cinco meses de governo, os grupos que orbitaram em torno do presidente Jair Bolsonaro (PSL) vivem um movimento de afluxo e colisões internas, com impacto na administração federal, nas ruas e também nas redes.
O diagnóstico é de Wilson Gomes, 55, professor titular da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e coordenador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Democracia Digital.
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O sr. vê um encolhimento da base de apoio do governo?
O bolsonarismo não ganhou a eleição sozinho, ele parasitou um movimento muito forte que foi o antipetismo. Tanto que agora começou a surgir como tendência do outono-inverno o sujeito que diz ‘não sou bolsonarista’ ou ‘eu votei no [João] Amoêdo’. O antipetista não bolsonarista é o primeiro grupo que já vai se desgarrando de Bolsonaro.
A matriz contra a corrupção se afasta porque o combate à corrupção não é mais um argumento que o bolsonarismo possa brandir. Os liberais oportunistas, que dariam um cheque em branco ao diabo pelas reformas, também se afastam. O olavismo contribui para produzir repulsa dos militares. As placas tectônicas que formam o bolsonarismo estão colidindo.
Quem fica é aquele bolsonarismo mais hardcore que não deve ser subestimado. Bolsonaro só encolhe até certo ponto, como nós vimos nas manifestações.
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As redes ajudam a retroalimentar esses discursos?
Retroalimentam de uma forma horizontal, mas não exatamente espontânea. Há uma indústria da produção da informação. Esses grupos de WhatsApp são coordenados, a gente estuda isso. São duas ou três pessoas por grupo que são responsáveis por ficar inserindo conteúdo. Há ali um novo tipo de mediador que publica o que é bom para a tribo, o que é bom para manter a matilha atiçada e pronta para luta. Se não tiver um fato para motivar, eles inventam.
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