Membros do governo Bolsonaro que denunciam o “socialismo” foram considerados “subversivos” e “comunistas” na ditadura

Matéria da BB Brasil lembra que, ao debater a ditadura, integrantes do futuro governo Bolsonaro dizem que a repressão ocorria no contexto de uma guerra entre o Estado brasileiro e grupos armados que tentavam impor o comunismo.
Mas até mesmo pessoas que hoje fazem parte da equipe foram vigiadas de perto pelo aparato de inteligência dos militares – alguns, inclusive, foram considerados “infiltrados comunistas” e “subversivos”.
Um deles é o colombiano Vélez Rodríguez, filósofo e teólogo de formação que chegou ao cargo de ministro da Educação depois de indicado pelo também filósofo e guru conservador Olavo de Carvalho.
Em seu blog, Vélez diz que os brasileiros viveram nos últimos anos como “reféns de um sistema de ensino alheio às suas vidas e afinado com a tentativa de impor, à sociedade, uma doutrinação de índole cientificista e enquistada na ideologia marxista, travestida de ‘revolução cultural gramsciana'”.
Como professor – e estrangeiro – Vélez não escapava do olhar atento da Comunidade de Informações do regime.
Num documento de 1985, a Assessoria de Segurança e Informações (ASI) da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) pede uma checagem das informações sobre ele na base de dados do Serviço Nacional de Informações (SNI), antes dele assumir o cargo de professor. Outro trecho de dossiê do mesmo ano registra a presença de Vélez num seminário de filosofia organizado pela Arquidiocese do Rio de Janeiro e pela Sociedade Brasileira de Filósofos Católicos, em outubro daquele ano – e visto com desconfiança pelos militares.
Além disso, os relatórios do SNI também citam Vélez em alguns momentos como autor de estudos e artigos críticos à Teologia da Libertação – uma ala de esquerda da Igreja Católica, surgida na América Latina, e para a qual os ensinamentos de Jesus incluem a luta contra injustiças sociais.
Um dos dossiês, da década de 1980, reproduz um trecho de um artigo do futuro ministro, no qual ele afirma que a corrente do teólogo Leonardo Boff representava uma “progressiva penetração da URSS (União Soviética) no nosso continente, através da politização e da radicalização (…)”. Em outro artigo, este publicado no jornal O Estado do Paraná e citado pelos militares, Rodríguez diz que a Teologia da Libertação faz uma “releitura tendenciosa” do texto bíblico.