Merval aponta parcialidade de Moro em nova parceria com Bolsonaro: “Objetivo sempre foi atingir Lula”

O colunista Merval Pereira, do Globo, publicou um artigo no qual faz críticas a parcialidade do ex-ministro do governo Bolsonaro, e agora senador do Paraná, Sergio Moro. Ele destaca que o ex-juiz pode ter se tornado cúmplice do golpe do chefe do Executivo e que seu objetivo sempre foi atingir o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT):
(…) O combate à corrupção e o medo de um comunismo que não existe mais como quando da Guerra Fria têm seu papel nesse apoio a Bolsonaro, surpreendente diante do que ele fez durante seus quatro anos, e especialmente do que não fez. Não fez, por exemplo, o combate à corrupção que prometeu ao levar o ex-juiz Sergio Moro para o Ministério da Justiça e Segurança Pública.
Ver Moro trabalhar como assessor do presidente durante o debate da Band no domingo, depois de ter rompido com seu governo devido justamente ao trabalho de Bolsonaro de impedir investigações de corrupção para proteger seus filhos e amigos, só tem uma explicação: seu objetivo desde sempre foi atingir o ex-presidente Lula, numa atuação motivada não apenas pelo combate à corrupção, mas também por uma tendência ideológica que perdoa os erros dos que lhe são semelhantes, mas não os de seus adversários. (…)
Mas nada justifica perdoar as ilegalidades de um presidente com quem trabalhou lado a lado e a quem classificou de ladrão. Se não tivesse se transformado num político vulgar, que logo, logo estará fechando acordos com outros que já acusou ou condenou, Moro poderia ser um senador independente, mas isso não o levaria ao Supremo Tribunal Federal (STF) ou a viabilizar uma candidatura à Presidência da República.
Dir-se-á que Moro continua obcecado por impedir que Lula volte à Presidência, o que justificaria seu apoio a Bolsonaro. Os fins justificam os meios. Nesse caso, porém, “um valor mais alto se alevanta”, uma questão maior a proteger, a democracia. Não ver que incorporar-se à maioria que Bolsonaro parece já ter no Congresso faz com que seja cúmplice de um possível golpe de Estado já em gestação não é ser ingênuo. (…)