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Merval Pereira: “ojeriza dos militares a Lula está por trás da condescendência com Bolsonaro”

Jair Bolsonaro e Merval Pereira. Foto: Reprodução/Catraca Livre

O imortal e colunista Merval Pereira não consegue esquecer do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

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Ele escreve em sua coluna neste domingo (6):

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“O arquivamento do processo de indisciplina contra o General Eduardo Pazuello, sob pressão do presidente Bolsonaro, foi um erro do Comandante do Exército, General Paulo Sérgio Nogueira, gerou insegurança e alimentou suspeitas de que o Exército sucumbiu a um projeto autoritário que está em curso. Suspeitas assumidas por mim, no impacto da notícia surpreendente.

A versão de que o Alto Comando do Exército acatou a decisão de não punir Pazuello para não criar mais uma crise militar pode denotar ingenuidade por parte dos generais quatro estrelas, mas anula a de que o golpe de Bolsonaro representa a submissão política de uma instituição de Estado ao projeto autoritário do governo da ocasião.

No caso específico, Comandante e Exército como instituição se encontravam numa verdadeira ‘escolha de Sofia’, ou, em português popular, numa ‘sinuca de bico’. O ato do Pazzuelo foi, sem dúvida, contrário aos regulamentos militares. Mas foi praticado, de fato, não pelo General, e sim pelo Presidente, ao chamar um General da ativa para uma manifestação política, e levá-lo  ao palanque”.

Ele continua:

“Nesse caso, pode-se discordar da estratégia adotada pelo Comandante do Exército, mas não se deve desqualifica-la, pois  teria tomado uma decisão como chefe de um órgão de Estado, e não de uma corporação. O importante é definir se as Forças Armadas, mais especialmente o Exército, respaldam o golpe que está sendo articulado por Bolsonaro, com o apoio em seus segmentos subalternos, das polícias militares, da Polícia Federal e da Polícia Rodoviária Federal.

Bolsonaro usa a disciplina para abusar das Forças Armadas, mas não podemos dar ao Exército o epíteto de golpista, mesmo porque, se fosse verdade, o jogo estaria terminado. E não está. A ojeriza dos militares ao PT e a Lula está por trás da condescendência com que Bolsonaro é tratado, mas não pode ser razão para a quebra da ordem democrática.

Além do fato de que Lula foi presidente por 8 anos, e não houve confronto entre o então Comandante em Chefe com as Forças Armadas. O caso ocorrido no governo Dilma, de tentativa de interferência no ensino militar, quando editou-se um decreto transferindo para o ministério da Defesa algumas das tarefas do Comandante do Exército, inclusive a definição dos currículos das escolas militares, é um osso atravessado na garganta dos militares.

Mas a solução não são as escolas militarizadas incentivadas pelo governo Bolsonaro, que representam uma tentativa de incutir as regras militares aos estudantes civis, numa ação tão perniciosa quanto a petista. No mundo moderno, não há lugar para aventuras comunistas, pelo menos em países como o Brasil, com um peso geopolítico específico de líder regional”.

Com informações da coluna de Merval no Globo.