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Mesmo afastado, Cunha opera indicações de amigos na Câmara e do governo

Do Congresso em Foco:

 

Antes de perder o poder de presidente da Câmara por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) tentou manter a influência no comando da Casa. Horas antes de ter sido obrigado a deixar o cargo, Cunha conseguiu eleger como presidente da mais importante comissão, a de Constituição e Justiça (CCJ), o seu amigo Osmar Serraglio (PMDB-PR). É a CCJ que vai analisar todos os recursos de Cunha contra um possível relatório, no Conselho de Ética e Decoro Parlamentar, que peça a sua cassação por ter mentido em depoimento à CPI da Petrobrás sobre suas contas não declaradas no exterior.

Mesmo sem a força de até dois dias atrás, o peemedebista, no entanto, já mantém as articulações nos bastidores, fazendo da residência oficial uma espécie de quartel general para reuniões e encontros a portas fechadas – privilégio que, aliás, soma-se a outros enquanto não tenha o mandato cassado, como remuneração e direito a voos em aviões da Força Aérea Brasileira, como este site mostrou ontem (5).

Serraglio era o nome que Cunha pretendia lançar para sucedê-lo na Presidência da Câmara. Da ala conservadora do PMDB, o parlamentar paranaense é advogado e tem um bom trânsito na Casa entre vários partidos. Serraglio é tão amigo de Cunha que chegou a defender a sua absolvição no Conselho de Ética, para compensá-lo pela admissão do pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff.

Com a queda de Cunha do cargo, Serraglio passou a ser o nome do PMDB para substituí-lo em nova eleição. Para isso, basta que Cunha renuncie ao posto e a presidência fique vaga.

No mesmo barco

Até deixar a Presidência da Câmara, Cunha estava negociando apoio para conseguir eleger outro amigo, o deputado Arthur Lira (PP-AL), para presidir a Comissão Mista de Orçamento. Lira já foi presidente da CCJ no ano passado por influência de Cunha. A indicação de Lira seria em nome do bloco parlamentar formado pelo PP, PSC e PTB.

O deputado alagoano está sob investigação da Polícia Federal na Operação Lava Jato e teve seus bens bloqueados por decisão do ministro Teori Zavascki, do STF, relator dos inquéritos referentes à operação. O deputado é suspeito de ter achacado o presidente da empreiteira UTC, Ricardo Pessoa, para receber propina de R$ 1 milhão. O pai do deputado, o senador Benedito de Lira (PP-AL), também é investigado na Lava Jato e teve os bens bloqueados pelo STF.

Costas quentes

Com intimidade com o vice-presidente da República, Michel Temer (PMDB), que está na iminência de assumir o comando do país se o impeachment da presidente Dilma for confirmado pelo Plenário do Senado, Cunha tentou escolher para a liderança do futuro governo na Câmara o amigo André Moura (PSC-SE). Assim como Arthur Lira, Moura também é investigado na Lava Jato pelos crimes de corrupção ativa, corrupção passiva e lavagem de dinheiro.

Outro amigo que Cunha quer preservar e até colocar em posto importante é o deputado Mauricio Quintella (PR-AL). Cotado para ocupar o ministério dos Transportes no eventual governo Temer, Quintella só não conseguiu garantir o cargo na Esplanada dos Ministérios por ser de um partido médio e acumular desconfianças do grupo ligado ao vice-presidente.