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Milionário, adepto da religião que usa ‘ayahuasca’ e acusado de corrupção: quem é o homem forte no novo partido de Bolsonaro

Luís Felipe Belmonte e Bolsonaro. Foto: Reprodução/Veja

De Eduardo Gonçalves e João Pedroso de Campos na Veja.

No dia de lançamento do Aliança pelo Brasil, em 21 de novembro, a mestre de cerimônias chamou pelo nome os membros da executiva no evento realizado em Brasília. “Convido a subir ao palco o presidente Jair Bolsonaro, a primeira-dama Michelle Bolsonaro, o senador Flávio Bolsonaro, o senhor Jair Renan…”, anunciou ela, enquanto a plateia gritava “mito, mito, mito”. Quando foi chamado o advogado Luís Felipe Belmonte, fez-se um silêncio. Ali, não eram muitos os que tinham ouvido falar do terceiro na hierarquia e segundo-vice-­presidente da sigla — abaixo apenas do capitão e de Flávio Bolsonaro. Pouco conhecido fora do círculo da família presidencial, Belmonte é um nome que ainda vai ganhar muita visibilidade — e não apenas por sua posição de destaque no Aliança.

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Formado em direito pelo Centro Universitário de Brasília (UniCeub), Belmonte trabalhou no Banco Central entre 1977 e 1991. Deixou o emprego público para tocar seu escritório de advocacia, que hoje tem unidades em Brasília e em São Paulo, atuando sobretudo em casos de direito empresarial e societário. Apenas em um processo iniciado em 1989 na Justiça trabalhista de Rondônia, que envolvia precatórios da União, ele embolsou mais de 100 milhões de reais em honorários. Com essa e outras boladas, o advogado diversificou suas áreas de atuação e se tornou empresário dos ramos de construção e incorporação, agropecuária e tecnologia, além de cartola de clubes de futebol.

O mesmo processo que enriqueceu Belmonte lhe rendeu uma dor de cabeça. Em maio de 2017, o advogado foi denunciado por sua inquilina PGR ao Superior Tribunal de Justiça (STJ), sob a acusação de corrupção ativa e lavagem de dinheiro. Segundo a procuradoria, Belmonte teria pago 800 000 reais em propina ao ex-­desembargador do Tribunal Regional do Trabalho (TRT) da 14ª Região Vulmar Coêlho Júnior em troca de uma decisão que liberou, em 2010, o pagamento a ele de 11 milhões de reais devidos do montante da ação dos precatórios em Rondônia. No desenrolar das investigações, em outubro de 2012, Belmonte acabou sendo alvo de um mandado de busca e apreensão da PF, que afirmou no inquérito que ele tinha “grande poder de influência nos órgãos públicos” e era o “principal protagonista” no “vultoso e conturbado” processo do TRT. A defesa nega o pagamento de qualquer propina, diz que o processo foi “comprovadamente idôneo” e sustenta que o desembargador decidiu sempre contra os interesses de Belmonte. Devido a fraudes no mesmo processo, Vulmar Júnior foi aposentado compulsoriamente pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) em 2017. A denúncia contra Belmonte corre em primeira instância na Justiça Federal de Rondônia.

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Já a relação com a União do Vegetal vem desde a década de 80. Belmonte chegou a ser mestre da religião, participou de cerimônias no Congresso para homenagear os seus cinquenta anos e atuou nas cortes judiciárias do Brasil e dos Estados Unidos para legalizar e regulamentar o uso consciente do chá de ayahuasca em rituais. Ex-­coroinha da Igreja Católica, o advogado hoje se considera um “ecumênico” e desde o ano passado frequenta cultos evangélicos na Assembleia de Deus — parte das lideranças evangélicas apoiou a campanha de sua mulher e é atualmente a base mais fiel ao presidente Bolsonaro.

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