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Militar que transportava cocaína na comitiva de Bolsonaro não agiu sozinho, diz Fantástico

Do Fantástico

O segundo-sargento da Aeronáutica Manoel Silva Rodrigues

O Fantástico mostra detalhes inéditos da investigação da Polícia Federal sobre o uso de aviões da Força Aérea Brasileira no tráfico internacional de drogas. Em junho de 2019, um sargento da FAB foi preso em Sevilha, na Espanha, transportando 39 quilos de cocaína pura em um voo da comitiva presidencial.

São documentos que revelam as primeiras conexões dessa rede de traficantes. Um caso que ainda tem muitas lacunas a serem preenchidas. (…)

“O que nós queremos das Forças Armadas é que não apenas o sargento seja levantado aí toda essa rede, com toda certeza existe, pela quantidade de drogas que na qual ele está no meio dela”, disse o presidente Jair Bolsonaro no dia 29 de junho de 2019. (…)

A PF investiga o caso desde a prisão, em junho de 2019, do sargento Manoel Silva Rodrigues. Rodrigues integrava um voo de apoio da comitiva do presidente Jair Bolsonaro à cúpula do G20, no Japão.

O militar, que não estava no avião que levava Bolsonaro, foi detido em uma escala no Aeroporto de Sevilha, ao tentar passar com 39 kg de cocaína em três bagagens de mão.

“Pela quantidade de droga que o cara está levando, ele não comprou na esquina e levou. Uma mula qualificada, vamos colocar assim”, disse o vice-presidente Hamilton Mourão no dia 26 de junho de 2019.

No julgamento em que foi condenado a seis anos de prisão, em fevereiro de 2020, Rodrigues confessou que “aproveitou a condição de militar” para cometer o crime, como mostra a sentença da Justiça espanhola. Disse ainda que deixaria a cocaína em um centro comercial de Sevilha com alguém de “roupa e características físicas” passadas pelas “pessoas que tinham entregado a droga” a ele no Brasil. (…)

Dez pessoas e três empresas foram alvos de 15 mandados de busca e apreensão e duas medidas cautelares que impedem a saída de investigados do Distrito Federal. Entre as pessoas impedidas de sair do Distrito Federal está Wilkelane Nonato, a mulher de Manoel.

Segundo a polícia, ela participava dos crimes “desde as tratativas iniciais” e, depois da prisão do sargento, sumiu com R$ 40 mil e um celular que o militar usava para se comunicar com a quadrilha.

A troca de mensagens entre Wilkelane e Manoel mostrou que o casal passava por dificuldades financeiras. Em uma mensagem de fevereiro de 2018, Rodrigues diz: “Ferrou, o dinheiro não dá”. A esposa responde: “Pega do limite”.

Um ano depois, o sargento conta que iria pagar um climatizador de ar de R$ 300 em 20 vezes. Quando ele diz que “não tinha como” pagar o IPVA, Wilkelane responde: “Se vira”. (…)

Com exceção do sargento Jorge, do sargento Manoel e de sua esposa, a PF reconhece que as provas ainda são precárias contra os outros sete suspeitos. A investigação chegou até agora a três núcleos. Um militar, com Jorge, Manoel e outros dois suspeitos, um de parentes de Manoel, que inclui a esposa, e outro com aqueles que seriam os donos da droga.

Esses suspeitos de encabeçar o esquema de tráfico em aviões da FAB foram alvo de buscas nesta semana em suas casas e empresas. Mas eles só apareceram na investigação por causa de um informante anônimo, e não há no relato desse denunciante ou no inquérito da PF nenhum elemento que relacione os transportadores da droga com esses supostos fornecedores. Ou seja, ainda faltam muitas peças nesse quebra-cabeça.

Para ligar essas pontas, os investigadores esperam contar com o material apreendido nesta semana. Oficialmente, a PF não quis gravar entrevista. (…)