Golpe? Militares temem governo Lula, mas descartam intervenção
A vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sobre o atual presidente Jair Bolsonaro (PL), provocou uma série de conversas telefônicas e troca de mensagens em grupos de WhatsApp, desde o anúncio da vitória, entre oficiais militares de patentes abaixo do generalato em tom de frustração e medo com o destino das Forças Armadas sob o novo governo.
Entre generais de alta patente, até então, porém, não há nenhuma ameaça ou cogitação de resistência ou intervenção militar em favor do ex-capitão, que foi derrotado.
O petista venceu a disputa presidencial com 50,9% dos votos válidos contra 49,1% de Bolsonaro. O atual presidente ainda não assumiu a derrota nas eleições.
Segundo conversas com militares da jornalista Malu Gaspar, do O Globo, um dos três interlocutores dos integrantes do Alto Comando do Exército afirmou que: “Os generais de quatro estrelas estão ‘sentados’ na Constituição”. Outro militar resumiu o “clima” entre os dezesseis generais de quatro estrelas: “O clima é de absoluta normalidade. Vida que segue”.
Já um terceiro general, na reserva, informou que há algumas semanas mensageiros de Lula têm “explorado” o ambiente na força, em cafés e almoços aparentemente despretensiosos, porém, que serviram para mandar aos militares sinais de que Lula irá atuar para acalmar os ânimos entre o Executivo e as Forças Armadas.
Ainda assim, abaixo do generalato, existe frustração com o que muitos deles nomearam de “falta de consciência” ou mesmo “ignorância do povo”, que não teria entendido “o que estava em jogo” durante o segundo turno das eleições.
Parte dos militares temem uma possível desestruturação das Forças Armadas por meio da intervenção nas escolas de formação e na promoção de oficiais. Uma grande parcela deles não se esqueceram e nem perdoaram duas iniciativas do governo da ex-presidente petista Dilma Rousseff (PT), e ontem foram relembradas nos grupos de WhatsApp.
A primeira foi a instalação da Comissão Nacional da Verdade. E a segunda, foi um decreto assinado em 2015 que transferiu atribuições dos oficiais para o ministro da Defesa, na época Jaques Wagner (PT). O decreto, que depois foi revogado, removia das Forças Armadas a autonomia para a reforma de oficiais, a transferência para a reserva remunerada e até a escolha de capelões.
Ainda assim, ao tempo em que governo Lula não começa, a tensão deverá ser mantida entre as patentes mais baixas, porém, não houve nenhuma sinalização que essa iniciativa seja retomada.
No entanto, não é nada que atrapalhe a transição do governo com as Forças Armadas. Os comandantes já avisaram às tropas que não embarcarão em aventuras golpistas.