Militares temem perder espaço na máquina pública após posse de Lula
Os aliados do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) veem a forte presença de militares na máquina administrativa federal, uma herança do governo Jair Bolsonaro (PL), como um dos maiores desafios que o petista enfrentará na montagem de sua gestão. O futuro ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, já assumiu que a retirada de militares dos cargos de primeiro e segundo escalões será uma tarefa delicada.
“Não adianta esconder que tem muitos militares em cargos na Esplanada. Tem militares de todas as armas. O que eu disse é que a gente precisa voltar ao que éramos. No governo você tem substituições. Vamos ver como vai ser”, declarou, em entrevista à GloboNews.
A despolitização das Forças Armadas não será uma tarefa fácil, já que os militares temem ficar de fora de áreas consideradas estratégicas, como estatais que trabalham com energia nuclear. A Nuclep (Nuclebras Equipamentos Pesados) e a INB (Indústrias Nucleares do Brasil) são presididas, respectivamente, pelo capitão de Mar e Guerra da reserva Carlos Freire Moreira e pelo contra-almirante Carlos Henrique Silva Seixas.
“Esse setor hoje está sob o guarda-chuva do Ministério de Minas e Energia, que teve seu organograma robustecido sob o comando do almirante Bento Albuquerque”, disse Monteiro à Folha de S.Paulo, destacando que a INB, por exemplo, detém monopólio de produção e comercialização de materiais nucleares.
No gabinete de transição do governo Lula, integrantes do grupo destinado à reestruturação do Ministério da Ciência e Tecnologia defendem que pelo menos a INB seja reintegrada à pasta, mas ainda não chegaram a um consenso sobre a Nuclep, hoje encarregada da construção de equipamentos pesados.
O ex-ministro Aloizio Mercadante, coordenador do gabinete de transição, afirmou à publicação que o remanejamento seria uma precipitação e a decisão não está no âmbito do grupo de trabalho de Ciência e Tecnologia.