Mino Carta enxerga Palloci por trás de nomeações na equipe econômica
Trechos de um artigo de Mino Carta na Carta Capital:
Pergunto de abrupto aos meus botões: seria Antonio Palocci um saudosista? Se os botões pudessem piscar maliciosamente, assim o fariam. Trafega uma sombra pelos meus pensamentos, a deslizar sorrateira no bastidor da cautelosa gestação do futuro governo da República. Algumas nomeações certamente gozam da aprovação paloccica. Mas não seria a sombra dele mesmo, ministro da Fazenda de Lula no primeiro mandato e chefe da Casa Civil de Dilma por alguns meses? Não se teria abalado, o indomável Palocci, a distribuir um ou outro palpite, um ou outro conselho?
É aí que se revela a saudade alimentada pela personagem, como se o projeto fosse reconstituir os começos do primeiro governo Lula, dirigidas as devidas mesuras à casa-grande, aquietados os terrores de quem gostaria de viver em Dubai, tranquilizados os fiéis do deus mercado. Obra capital da operação sorriso, a “Carta aos Brasileiros”. De autoria de quem mais se não Antonio Palocci? Sinto que o homem está em plena atividade, ainda que se esgueire pelos cantos.
Se valem estas minhas arriscadíssimas… procuro a palavra… sensações? Intuições? Suposições? Fantasias? Pois é, caso tenham alguma relação com a verdade factual, a quais conclusões nos levam? Que o entendimento entre Lula e Dilma é muito mais profundo neste exato instante do que se imagina. O filtro entre Palocci e Dilma só pode ser o ex-presidente, sabidamente intérprete magnífico da Realpolitik.
Inquietos, os botões me puxam pelo paletó. Calma lá, suspiram, mas valeria hoje o mesmo esquema que funcionou há 12 anos? Medito antes de responder, e penso em Severina e Maria das Dores, e em todos os brasileiros que nestes 12 anos melhoraram de vida. São eles que, na reta final do pleito recentíssimo, contra o golpismo do mercado, da mídia nativa, dos brasileiros que gostariam de viver em Dubai, da reação tucana, garantiram a sofrida vitória de Dilma.
Houve avanços nestes 12 anos, sociais e na independência brasileira assentada na política exterior que nos convém. O Brasil atual não é mais aquele. A política do poder, destinada a garantir a chamada governabilidade e a enriquecer ilicitamente várias categorias de graúdos, ainda causa, contudo, estragos e atrasos monumentais em um sistema patrimonialista capaz de bater recordes mundiais em termos de cifras envolvidas.