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Miriam Leitão adverte que subordinação de Bolsonaro a Trump pode causar prejuízo bilionário ao Brasil

Miriam Leitão na sabatina com Bolsonaro: tutelada

Da Coluna de Miriam Leitão no Globo.

A Guarda Revolucionária do Irã não é considerada uma organização terrorista pela ONU. Apenas os Estados Unidos, Reino Unido e Israel a definem como terrorista. Nem mesmo pela União Europeia ela é vista assim. A posição tradicional do Brasil sempre foi a de seguir o que a ONU define. A nota brasileira, contudo, muda isso e trata a morte do general Qassem Soleimani como um ato da luta contra o “flagelo do terrorismo”. O Brasil exportou no ano passado US$ 2 bilhões para o Irã, e o país é considerado um mercado importante para o agronegócio brasileiro.

O que está acontecendo na escalada de tensão entre Estados Unidos e Irã afeta o Brasil. No comércio, nos preços internos e na definição da política brasileira em relação ao assunto. Os diplomatas estão acompanhando atentos as decisões da política externa, e a avaliação é que é arriscado mudar a nossa política em cima de um conflito de desdobramentos imprevisíveis.

A escalada da crise afeta diretamente os preços do petróleo, mas a lista dos produtores e dos importadores mudou muito nos últimos anos. Os especialistas no setor ainda não temem uma disparada dos preços. Porém, eles já subiram o suficiente para colocar em xeque a política do governo Bolsonaro. Na sexta-feira, o presidente indicou que tentará suavizar o repasse para os preços, reduzindo impostos, e ontem se reuniu com ministros para discutir o tema. Pode conversar com os estados para eles segurarem o ICMS. Não faz sentido algum. A presidente Dilma foi muito criticada pelos economistas exatamente por impedir que os combustíveis seguissem as oscilações do mercado internacional. Aquela política abriu um rombo na Petrobras e no caixa do governo.

Os analistas consideram que as palavras do governo Bolsonaro de alinhamento com Israel e agora essa posição do Itamaraty podem acabar afetando o comércio. Do que nós vendemos, 44% é milho, o principal produto da pauta de importação do Irã. Foram US$ 940 milhões de janeiro a novembro. O segundo, que representa 39%, é a soja, o terceiro item de importação do país. E 10% é carne bovina congelada. E depois é cana de açúcar.

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